Proibido Usar Computador Na Escola

Janaína, como a grande maioria dos alunos, enxergava a escola como um refúgio dos pais. Ali, estava livre para fazer o que quisesse, desde que que o ''quisesse'' tivesse dentro dos limites mínimos da instituição. Isso incluía comer o que desse vontade, falar com os amigos, mesmo que por bilhetes jogados de mesa em mesa. Pois, nós humanos somos assim: se lembramos de algo, independente do que seja, logo deve ser compartilhado, antes que perca a graça ou seja esquecido por bastante tempo. Tirar fotos então não importava a hora. É! Janaína não gostava de estudar, queria mesmo era uma distração. A tortura era a sala de aula, quase sempre com todo mundo em fila, tentando entender o porquê de estudar aquilo tudo. Não conseguia decorar tantos nomes e conceitos das aulas de ciências, mas era a única matéria que a interessava mesmo. Afinal, estudar ciências era estudar a vida, isso incluía estudar o corpo humano, o seu próprio corpo. Isso era suficiente para se manter um pouco atenta durante as aulas. O resto era chatice, sono, dor de cabeça, cansaço.

Janaína, como muitos, não via a hora de chegar em casa. Ir para o quarto, assistir TV ou ligar o computador. Após aproximar das amigos íntimos da escola, era hora de se aproximar dos amigos mais distantes. Talvez postar aquela foto tirada minutos antes no recreio ou na sala de aula. Enfim...Janaína estava livre de suas obrigações. Como estuda pela tarde, o dever poderia ficar para amanhã. Hoje não! Agora o momento era pra si mesma e para os amigos. Quem sabe para um possível namorado, alguém que fizesse renascer a inocência e travessuras do primeiro amor? Não sei...

Amanhã tudo voltaria a ser como hoje cedo. As carteiras enfileiradas, o pedido de silêncio da professora, as piadas e risos soltos dos colegas e os conteúdos que até agora nada pareciam lhes servir. Pois a realidade de Janaína era outra, diferente do que os livros didáticos mostravam.

Janaína se interessava por música romântica. Suas postagens no Facebook era quase todas fragmentos de letras que mais pareciam com cartilhas de como se dar bem na vida. Jorge e Mateus é o seu grupo preferido. Janaína gostava também do Calypso e de arrocha ( mas isso era outra coisa). Ela não sabia dançar e não entendia como se fazia o quadradinho de oito, mas sabia o que era isso. Suas amigas dançavam o tempo todo.

A última vez que Janaína faltou à escola havia dito que estava com dor de cabeça. Mal sabia os pais e a própria professora que as causas da dor de cabeça, na verdade, era o sono e a fome. Acordar cedo não era o seu forte. Sempre havia uns quinze minutos a mais antes de sair correndo da cama cambaleando. Certa vez, ouvi em uma palestra que todos nós somos idiotas pela manhã. Isso é verdade! Acordar alegre e disposto são qualidades de poucos. Aliás, quantos bons dias felizes e sinceros você já recebeu pela manhã?

Janaína era assim: não conversava muito em casa. lavar os pratos e limpar a casa todos os dias lhe estressava. Os pratos pareciam nunca acabar... Sua mãe não cansava de lhe chamar de preguiçosa quatrocentas vezes por dia. Janaína não era pobre nem rica, tinha apenas tudo que desejava para se sentir como uma garota normal.

Janaína, adorava postar poesias no face. Compartilhava colocando o nome de sua amiga. Para ela, a amiga era a autora, porque havia postado a frase sem aspas. Aliás, pra que servem as aspas? Algo tão minúsculo e insignificante... '' Ninguém notará a diferença'', dizia ela consigo mesma.

Janaína tinha uma letra linda. Mas essa era especial, só aparecia assim quando queria dizer algo importante e não às pressas, como costumava fazer pro desespero de ganhar boas notas.

A internet sempre fez parte da vida de Janaína, mas era algo que só poderia desfrutar em casa. Lhe pergunto: se a internet fosse uma ferramenta utilizada em aula, será que Janaína se interessaria melhor pela escola? Não há outro meio de deixar os alunos mais interessados e participativos durante as aulas, sem deixar de lado os livros, o professor e a internet? Pois esse último recurso já não pode mais ser ignorado, sempre fez parte da sua vida. Desde os cinco anos de idade, Janaína já brincava com as teclas.

Na escola de Janaína, os computadores estão quebrados.

Moral da história: nem sempre a escola consegue chegar à realidade do aluno e mostrar de cara a sua real importância.

Raquel Dantas
Enviado por Raquel Dantas em 14/10/2013
Reeditado em 14/10/2013
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