A VELHINHA DO MERCADO

Todos os meses, geralmente no primeiro sábado eu precisava ir ao mercado no centro da cidade com minha mãe fazer a compra do mês. Era uma tarefa chata, porque íamos pela manhã e eu gostava de dormir até tarde nos finais de semana já que não tinha tempo nos dias úteis por causa do trabalho e da faculdade. O centro da minha cidade natal é uma loucura, há pouco espaço para tudo e para todos, as calçadas são ocupadas por vendedores ambulantes que vendem de tudo, CDs, sorvete, roupas, utensílios doméstico. O trânsito é pior ainda.

Eis que em um dia, enquanto esperava minha mãe voltar de uma loja de roupas femininas que eu me recusara a entrar, uma senhora muito simpática se aproxima de mim. Aparentemente ela teria de 60 a 70 anos de idade, ou mais talvez. A velhinha mostrou-me a mão cheia de moedas e perguntou-me se poderia ajuda-la. Não pensei duas vezes, coloquei a mão no bolso e busquei por alguma moeda, já que não tinha dinheiro comigo. Encontrei uma cédula de 5 reais na mochila e dei para a senhora. Ela pareceu surpresa com o pouco que lhe dei, talvez por ter apenas moedas, achou aquilo significativo e embora para mim não fosse nada, para a senhorinha aquilo foi um gesto gentil e ela pareceu muito agradecida. Abençoou-me e quando viu a minha mãe se aproximando, perguntou o que ela era minha e nos desejou muitos anos de vida. Fiquei feliz em ajudá-la. Enquanto minha mãe e eu esperávamos o ônibus vi a velhinha pedindo moedas a outras pessoas, algo me chamou a atenção. Quando alguma pessoa dava dinheiro para ela instantaneamente ela puxava assunto com a pessoa, como havia tentado fazer comigo perguntando o que a minha mãe era, mas como estava apressado por causa do ônibus que vinha eu não tive como dar atenção para a senhora, mas vi que ela passava minutos conversando com as pessoas, como se as conhecesse. Isso se repetiu algumas vezes até que eu tive que seguir meu caminho.

Outro dia, desta vez eu estava sozinho. Vi a mesma senhora pedindo moedas em frente às lojas, ela não se lembrou de mim, mas me lembrei dela e após oferecer-lhe alguns trocados, o que eu esperava aconteceu ela começou a puxar assunto comigo, perguntou onde eu morava, disse-me que parecia com um de seus netos, mas que eles não ligavam muito para ela, perguntei se ela morava sozinha ela respondeu que sim e ficamos alguns minutos falando destas coisas até que mais uma vez eu tive que ir embora. A cena se repetiu algumas vezes, eu estava esperando o ônibus, encontrava a velhinhas, oferecia alguns trocados e conversávamos um pouco, quando não acontecia comigo eram outras pessoas as agraciadas com a simpatia daquela senhora. Hoje em dia continuo indo ao centro da cidade, já não vejo mais aquela velhinha e me pergunto o que pode ter acontecido com aquela que aceitava algumas moedas em troca de alguns minutos de conversa sincera. Mais do que esmolas ela queria um pouco de atenção.