O DIA DA CRIANÇA
Enquanto os anos me atrasam, penso no futuro que não tenho. Enquanto a saudade não me desata, vivo do passado que não foi. Enquanto o agora não me preenche, falo sobre aquilo que não sei.
Decidi, ainda antes dos três: serei cientista. Achava lindo descobrir fatos insólitos e desbravar o desconhecido. Envelhecendo, bravei-me com o conhecimento dos laboratórios.
Após, coisa de uns 6 ou 7 aninhos, empertigaram-me: será advogado! Não sabia o que era direito e trazia um senso de justiça muito particular. Coisa de quem ainda vê o mundo através de pais, tios e avós. Quando fui entender que apenas se é justo com todos, fiquei velho demais, ou o direito é que se tornou caduco.
Na puberdade o que importava seria o sucesso. Algum tipo de arte, alguma coisa escrita, gols, pontos, vitórias, prêmios. Aí procurei um dom, fato que estava escondido em qualquer apêndice do meu mundo. Mas não era dessa vez.
Foi na adolescência a percepção de que o importante é a arte da história. Tentei acordes, tercetos, quadras, hipérboles, paráfrases e grandes versos traduzidos, os quais até mereceriam o nome de subversões. Tangenciei o tempo a crer no imaginável, a reparar os danos, a ver reis mal coloridos, a espiar na venda das tradições, a ter com o medo das elites. O arco do impossível mostrou-me, enfim, inscrever-se no mundo é um ato de transgressão. Obviamente, deu em nada. Acabei, então, em meu acaso.
Mas, reconhecimento à parte, o mundo deverá ser obra de arte. E a adolescência é outro capítulo. Vislumbraram-me alguns estágios, outros foram, logo de cara, provas de aposentadoria. Analfabeto das possibilidades, confirmei que precisava estar pronto. Terminado o grau escolar, vivi de realidade. A adolescência é o tempo da eternidade à primeira vez: a primeira vez parece ser eterna, mas a primeira vez estará eternamente presa à nossa saudade. A adolescência é uma eterna vontade. E foi nesta época que aprendi: não sou eterno.
E quem disse que [a infância] acabou por aqui?
Quer mesmo saber o que aconteceu comigo...? Pois bem, olhe-se a si e retire aquilo que não lhe valeu a pena. De modo que nos ocorre mais ou menos a mesma coisa. Nesse caso, portanto, tudo é um ponto de vista.
A vida não dá na arte que sonhamos. Mas merece sempre nela ser encaixada.
Buscar a felicidade é o que imaginamos.
Feliz é sempre dia da criança!
[Deitado eternamente em: http://bloguedozeaporo.blogspot.com.br/]