Poeta

Conta-se da existência de um menino chamado Poeta. Sua mãe, apaixonada pela vida, lhe deu esse nome com a melhor das intenções, desejando que ao olhar para sua designação, seu filho tivesse um olhar diferente sobre o mundo. E assim foi durante quase toda sua infância. Jogado entre simplicidade e felicidade, admirava céu, estrelas e lua. Apreciava a vida presente na vida, as flores e o vento, o sol e as chuvas. Mas não dedicava seu tempo somente a observar, e foi assim que se apaixonou pela Poesia. Conforme o tempo passava, a necessidade do Poeta de dividir a beleza da vida com as pessoas que não conseguiam enxergar tudo isso aumentou, e começou a passar seus dias, com a ajuda da Poesia, tentando converter pessoas à sua seita. Entretanto, o cansaço devido ao esforço de se contrapor a ideias e pessoas comuns o impossibilitou de continuar com sua condição, e adquiriu uma nova, falsa, imaginária. Mudou de identidade e acabou se afastando da Poesia. Sim, o mundo corrompeu o Poeta, e ele então passou anos e anos vivendo sua não vida como se ela fosse verídica, esquecido de sua amada. Já adulto, em um dia ensolarado pós-chuva, com um arco-íris desenhado no céu, os resquícios de existência que ele ainda possuía desencadearam uma remota lembrança de um passado feliz. E assim, motivado pelo resto de humanidade que ainda existia dentro dele, saiu de sua casa em direção ao jardim e apenas se entregou a felicidade. Sentiu o cheiro da terra molhada, tocou a grama úmida e observou o lindo céu: voltara a ser Poeta. E nem precisou esperar tanto para a chegada daquela que nem ele mesmo sabia que estava esperando. Ela veio calma, serena, sem pressa, ansiosa pelos braços, ou melhor, pelas mãos daquele que ela não deixaria escapar novamente. O tempo passava, mas nada mais importava: o Poeta novamente se encontrava com a Poesia.