CEMITÉRIO DE ELEFANTES

A propósito da lenda do CEMITÉRIO DE ELEFANTES, capturei no Google o seguinte: "Não, essa história de que os elefantes teriam uma espécie de santuário, um local sossegado para o qual se dirigiriam antes de morrer, não passa de lenda. De acordo com estudiosos, quando os trombudos envelhecem, seus dentes ficam muito sensíveis e, assim, eles têm dificuldade de comer sua alimentação habitual, formada por arbustos, folhas e cascas de árvores. Por isso, é comum os animais mais velhos se deslocarem para regiões pantanosas, onde há abundância de água e as folhagens são mais macias. Invariavelmente, eles acabam ficando por lá até a morte."

Como diz o ditado, "si non è vero, è bene trovato". Quando fui absorvido pelo Banco do Estado, naturalmente que o fui como qualquer outra criatura, independentemente de minha bagagem. A vida é assim: era advogado e como tal me acolheram, um tanto abaixo do que eu já amealhara, mas era a diretriz. Portanto, muitos desafios, que enfrentei um por um, durante bom tempo. Mas, num salto histórico, chego aos últimos momentos desta opereta, após importantes conquistas, que, na vida corporativa, são assaz relativas. Certa feita, meu chefe na empresa, um rico colega, amigo e atento a seus misteres, chamou-me para conversa mais particular. Falou-me das motivações da alta direção em modernizar a instituição, da necessidade que tinha de contar com gente comprometida em ajudá-lo, ressalvando sempre que eu era parte importante desse estamento, mas que precisava de minha sala para uma remodelagem organizacional, pelo que eu deveria compartilhá-la. Concordei, é claro, qual o sentido da privacidade, com tanta gente querendo espraiar-se? E, afinal, o chefe tem sempre razão. A perda do espaço físico sempre reflete uma realidade. Aliás, esta questão me traz à lembrança episódio com vó Dina, ao tempo em que a grande família veraneava em Xangri-lá. Na hora do almoço, a empregada colocava as panelas fumegantes e os pratos na mesa e as hordas bárbaras assanhavam-se para o ataque. Aí, ela pedia a meu jovem irmão: “Ricardo, tu, que és o mais forte, vai lá e me serve”.

Enfim, talvez a lenda do elefante seja de verdade e que inexoravelmente chegue um momento em que se torne natural encaminhar a manada mais veterana ao "cemitério".

Dito e feito, nem bem me acostumara à nova sala compartilhada, meu chefe convida a mim, novamente, e à colega de convívio laboral e de sala, para uma reunião em que volta a enaltecer nossa importância. Sempre desconfiei quando me consideravam relevante. Após várias considerações, pede-nos opinião sobre outra possível mudança, pois estaria cogitando de fazer algumas modificações e coisa e tal. Iríamos, claro, para uma área ensolarada, mais saudável e adequada, ainda que um distante do nosso tradicional campo de ação. Beleza pura, nada contra!

Não há culpa ou má-fé nesta linha procedimental: a visão estandardizada que impera nas empresas maiores pode tornar-se não tão positiva quanto se supõe, notadamente quando cogitam de modernizar. Se você discrepa do padrão, refoge eventualmente a ditames de manuais e normas hierárquicas será cobrado para adequar-se ao figurino, mesmo que tenha fundado a organização. A reengenharia é tudo. E se você argumenta que nem todos são iguais e que seu trabalho tem um diferencial para justificar um pouco mais de consideração, logo lhe acham presunçoso. É a dinâmica evolutiva, nada a ver com reivindicação de privilégios. Só há uma conclusão razoável: o seu tempo passou. Querendo ou não, o cemitério está convocando os elefantes mais idosos ao doce repouso, com arbustos e folhagens macios e água em abundância para beber. É normal que, sobretudo os mais jovens, relativamente menoscabem o currículo individual, afinal, o que passou, passou, tem gente nova pedindo passagem e o chamado do amanhã é impositivo. Nada é tão difícil que o João da Silva, de algum modo, não encontre alguma solução. Sua fotografia desbotou. Em outros tempos, o sinal era quando lhe serviam o café frio. Como não há mais quem lhe sirva café, é preciso aprender novas leituras. Mas o cemitério de elefantes é bom demais, uma verdadeira festa.