BAILEI NA CURVA

Como tenho visto aqui no FACE, com enorme satisfação, a retomada desta excelente peça, que continua cativando o público, resolvi republicar esta crônica, que escrevi em 01/10/2013: "Li, no ano retrasado, uma importante reportagem que assinalava a comemoração da peça gaúcha BAILEI NA CURVA, de 01 de outubro de 1983, mas, depois, não tive mais notícias a respeito, o que me deixa apreensivo. Achei que devia prestar depoimento, pois foi uma das mais empolgantes peças teatrais a que assisti, especialmente por que voltada para a minha geração, num tempo de efervescência e de grandes transformações. É a história de sete garotos que moravam numa mesma Rua de Porto Alegre, quando eclodiu o movimento militar de 1964, com seus profundos reflexos políticos, econômicos, sociais e culturais na vida daquelas famílias e do país. A canção entoada na peça é belíssima e chama-se Horizontes. Confesso que, na época, não levava muita fé numa peça teatral aqui dos pagos e fui embromando, sem assisti-la. Sou também um pouco preguiçoso. Como permaneceu um bom tempo em cartaz no Teatro São Pedro, em 1984, decidi corajosamente apreciá-la certa feita. Fiquei encantado.

Num verão de 85 ou 86 resolvi revê-la no cine teatro que existia bem no centro do balneário de Capão da Canoa, num fim de semana qualquer, e, sinceramente, voltei a vibrar intensamente com a beleza artística, a inteligência e a graça do texto, além do desempenho magnífico daqueles jovens atores. Não garanto que a ordem tenha sido exatamente esta: posso tê-la assistido primeiramente em Capão, no veraneio, e depois, em Porto Alegre, no São Pedro. BAILEI NA CURVA teve várias adaptações ao longo dos anos e percorreu muitos estados do país; não asseguro que tenha preservado a alta qualidade dos primórdios, a despeito do grande sucesso. Aliás, nem sei se continua em cartaz.

Velho ou moço, de esquerda ou da direita, chimango ou maragato, gremista ou colorado, não há como deixar de apreciá-la. Curti tantas peças fora do Brasil, em linguagem cujo domínio completo não possuía, sobretudo pelas peculiaridades de tempo ou espaço, que aprendi a valorizar muito as nossas coisas, seguidamente do mesmo nível ou superiores às badaladas produções culturais estrangeiras (tinha escrito “alienígenas”, mas são tantos os filmes sobre “invasores” do espaço, que desisti).

“De seguir livre muitos caminhos, arando terras, provando vinhos/ De ter ideias de liberdade, de ver amor em todas idades.” Música e obra teatral são indissociáveis e enriquecem a memória que a gente cultiva. Num tempo em que a criatividade artística, a meu ver, não é exuberante, é preciso ressaltar nossas façanhas e que sirvam de modelo a toda a terra."