RETRATANDO

“Carlos Silva”

Eu nasci num dia de sorte, exatamente num dia que era pra eu nascer. Este dia estava reservado para mim e naquele exato momento, no dia 14 de abril de 1963, enquanto o mundo caminhava em seu progresso, declínios, incertezas e avanços, lá estava eu dando o meu primeiro grito, o meu primeiro choro, ecoando ao mundo dos viventes, a minha anunciação de que estava chegando ao mundo mais um filho de (mais um) casal de nordestinos aventureiros da sorte, oriundos de outras plagas cobertas de poeira, secura e solidão.

Ele, “O PAI”, um paraibano nascido na cidade de Itaporanga (PB), sua companheira, nascida na cidade de Nova Soure (BA). O destino une através de tamanha distancia vidas que passam integrar um mesmo conceito de viver entre lutas e aspirações conjuntas.

E olha que de Itaporanga até Nova Soure há uma distancia muito grande e esse eixo triplo agora se formava assim: ITAPORANGA X NOVA SOURE X SÃO PAULO sendo esta ultima, a Capital das ilusões, mas também das múltiplas oportunidades.

Casa modesta, pais modestos, carregados de sonhos duvidas e muita, mas muita incerteza do que viria a seguir.

Um ano antes da minha chegada, foi ano de copa do mundo e a seleção brasileira estava lá conquistando seu segundo titulo mundial.

Um ano após a minha chegada, alguns fatos ocorriam no Brasil:

O mais marcante, foi o Golpe Militar que acontecia No dia 31 de março de 1964, posto em prática, deixando para trás a República Populista.

2 de abril: O Congresso Nacional declara que o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazilli, assume a Presidência da República interinamente.

11 de abril: Humberto de Alencar Castelo Branco é eleito presidente do Brasil.

13 de maio: O Brasil rompe as relações diplomáticas com Cuba.

O FAMOSO golpe de Estado, com renuncias, prisões desaparecimentos e até mortes Despertava em meu país verde e amarelo (Agora tingido de vermelho) uma nova governança abrupta, pesada e porque não dizer “de certo modo” cruel.

Entre flores e baionetas, entre fuzis e gritos, entre ordens e obediências, assim a pátria paria um novo regime autoritário, perseguidor e que mudaria a estética, a plástica, o desenho, o formato sócio politico do país e de seu povo.

Generais, Capitães, Sargentos, Tenentes Coronéis, Majores, comandavam um regimento formado por cabos e soldados, cuja missão era: REPREENDER, DISCIPLINAR, BATER, HUMILHAR E ATÉ MATAR, numa perseguição trágica protegida pela impunidade opressora de alguém que de lá de cima, dava as ordens, para que “ A ORDEM” fosse estabelecida.

A maior metrópole brasileira erguia-se a custas de muitos braços, de muito suor, de muita labuta, principalmente do povo nordestino que aqui, sem temer os muros da discriminação e a não aceitação dos seus passos em suas ruas, contribuíam em cada arranha céu erguido mostrando a imponência e a importância do crescer paulistano.

Sou também, um pedaço desta historia, pois n’algum lugar paulistano, meu umbigo lá também fora enterrado.

Em meio a esses fatos corriqueiros, lá estávamos nós, inseridos no contexto lógico do viver, na simplicidade do fazer e do contribuir para que tudo isso estivesse acontecendo.

Hoje, em data atual, os calendários da minha existência marcam a seguinte data: 14 de abril do ano de 2013.

50 anos passados, mudanças ocorridas, o regime autoritário ruiu em 1988, e hoje somos regidos por uma nova constituição federal. Maior dos responsáveis por ela, o Dr. Ulisses Guimarães, já não se faz mais presente, mas jamais poderíamos deixar de lembra-lo, e enaltecer a sua importância nessa nova mudança brasileira.

Alguns direitos foram ganhos, outros, porém, MAQUEADOS, pegam carona na chamada democracia. Creio que os grilhões, os pelourinhos já se acabaram, mas ainda deixaram suas pegadas disfarçadas por este novo acontecer progressista. Todavia, deixemos esse discurso de lado, pois não cabe aqui, a mim como explanador dessa historia, está malhando em ferro frio.

Hoje, sou maduro, procriador de outras vidas, umas aqui, outras por lá e entre idas e vindas, um punhado de saudades e uma imensa vontade de (mais uma vez) retornar para os braços da metrópole que não consigo acostumar-me longe dela.

Parece que mesmo com meu jeito nordestinado, acredito que sinto falta do meu umbigo, enterrado n’algum lugar daquela cidade (ainda) das oportunidades, dos sonhos, das decepções, mas do lugar certo para se viver, quando (Ainda) se tem perspectivas de vida e de conquista de seus ideais.

Cinquentenário que hoje sou, ainda sonho e morrerei (quando não sei) sonhando, com suas vilas, ruas, avenidas e cheiros diurnos e noturnos que te cobrem e te beijam.