Metamorfose

Mais uma noite. Olho pela janela a fim de ver o céu, e olho para mim a fim de ver a transformação. Não é necessário ser dito a fase em que a lua estava, pois isso pouco importa. Cheia ou nova, a transfiguração ocorre de qualquer jeito, inclusive agora. E assim, meu corpo já não é mais reconhecível. Uma nova fera aparece, e toma o controle de mim. Mais terrível que um Lobisomem ou criatura qualquer, agora estou coberto de pelos de melancolia. Transformei-me num ser sentimentalista e carente, o que me torna extremamente apavorante. Mas as comparações com um monstro param por aqui. Diminuo, e me recluso, e me torno mais fraco. Já não consigo mais distinguir o certo do errado, já não sou mais lúcido e sábio. Minha resistência se enfraqueceu, minhas forças já se exauriram. Não suporto aguentar mais, e é então que as palavras saem. Antes fossem tímidas e acanhadas, mas não. O monstro não sairia de sua jaula sem causar um estrago completo no corpo de seu hospedeiro. Então saem palavras fortes, que talvez em outro contexto não causassem tanta destruição. Mas nesse causam. E o esgotamento do meu corpo que parecia insuperável se conclui na completa destruição interna do meu ser. Caio na cama, enquanto o parasita apresenta-se satisfeito por ter cumprido sua missão. Mais uma noite. Aqui, eu, uma criatura indefesa, quisera inóspita, desfruto do caos e da tristeza, enquanto caio no sono e espero ansiosamente pela próxima transformação.