Resumo da feliz vida de um infeliz

Prudente nasceu em um dia comum, viveu em um bairro comum e querendo viver como alguém comum, levou uma vida assim. Aos oito anos já lia e poetizava, inspirado em um sentimento que ainda ousaria de conhecer de uma forma mais dolorosa. Aos onze, veio sua primeira desilusão amorosa. E como um maníaco masoquista, gostou do que sentiu, e passou a se iludir facilmente. Nem a cansativa e repugnante rotina do trabalho o consolava das dores que as paixões o provocavam. E então cansou dos excessos, e decidiu aos trinta tomar juízo. Mas se o excesso faz mal, a escassez faz mais ainda. Esperando durante 60 anos o amor de sua vida, viveu como um bêbado-drogado, embriagado de amores não correspondidos e entorpecido de melancolia. Cansado de tudo, em uma tarde chuvosa e movido pela sua confusão interior, gritou “morte ao amor”. E ironicamente, assim seu coração parou. Quem passa pelo seu túmulo, vê em sua lápide uma inscrição de autoria desconhecida, mas dita assim:

“Morreu de amor, do amor que nunca teve.”