Companheiro papel

Sento-me e paro para pensar nos motivos que me fizeram estar aqui, agora, encarando o papel que aguarda ansiosamente o vômito de minhas palavras. Sinto muito tê-lo feito esperar tanto, mas prometo que tentarei saciar a saudade com boas palavras. Entretanto digo que essa separação que não foi em vão, já que ela despertou-me para uma das leis mais óbvias da vida: “Um escritor inerte tende a permanecer nesse estado até que um amor atue sobre ele”. Talvez seja por isso que esteja aqui agora. E a incrível descoberta motivou meu otimismo, que impulsou mais uma revelação: “Para toda ação haverá uma reação, cinco vezes pior, se o corpo for um escritor”. Peço-te leitor que não me julgue por toda essa dramatização. Mas acredito verdadeiramente que a perfeição de um texto se faz pela sinceridade dos sentimentos, que se dá entre o escritor e seu pedaço de papel. A verdade é que é a partir desse sentimentalismo é que nasce um texto, e foi assim que cheguei à conclusão dessa minha segunda lei. Sim, porque acredito que de todas as fãs de meus humildes textos, a mais fiel é a Vida. Deixo aqui então minha nota de agradecimento a ela por todos os infortúnios causados, pois foi assim que pude estar aqui nesse momento e em tantos outros. A minha maior fã, meu autógrafo, e as infelicidades, um brinde! E que eu possa suportar os fardos das restantes felicidades e corresponder ao amor de meu único, mas sincero e companheiro papel.