Ócio? (Ócio II)

Finalmente, já é de manhã. E a alegria trazida pela experiência de viver mais um dia, é inexplicável. Certo, há uma explicação, ou melhor, várias. A liberdade trouxe algo diferente e incrível, sensações e sentimentos que não tinha naquela prisão. Às vezes a euforia é tanta, que tenho que me lembrar do passado, para assim equilibrar as coisas. Sim, caro leitor, tudo em excesso faz mal, e a felicidade também não foge dessa regra. Pisco devagar e aproveito cada imagem, cada cheiro, cada som da vida. Mas toda essa alegria criada se dissipa momentaneamente: já é hora de descansar minhas vistas. Mas não é, e sou sincero ao dizer, de forma qualquer e ainda igual que faço isso. Agora, os olhos se fecham, mas o sorriso se abre. E aquela alegria mais uma vez volta na manhã, sendo assim todos os dias. Quem diria que haveria em algum mundo uma saudável rotina? Mas, esse não é um dia comum. Acabou a euforia. Bastou somente minutos. Minutos, que destruiriam um mês. Meses, que destruiriam um ano. Penso agora que foi realmente ilusão acreditar em perfeições da vida, fosse qual fosse. Grito que sou inocente, inocente sou! Mas não, não sou. Acreditei, e busquei o errado, aquilo que me fazia mal, mesmo que na hora me parecesse tão bem. E de repente, não mais que de repente, a Fidelidade transfigurou-se em Separação. Faltou um pouco de sensatez em mim, e assim volto. Não de imediato, pois a dor da prisão nem se compara com o que vem a seguir. Aguento as flagelações, sobrevivo às torturas. Mas volto. À minha cela suja, cansativa e repugnante. Sem dúvida nenhuma, o maior castigo do mundo é ter que viver um amor ignorante.