Ócio

Ócio

Abro o olho. Pisco. Fecho o olho. Saio de meu estado de sono. Fecho e abro os olhos rapidamente. Descanso as vistas. Faço isso frequentemente, em média sete dias por semana. E quanto mais faço mais cansado fico. Entretanto, não há escapatória. É melhor ficar nessa prisão que se arriscar fora dela, melhor sofrer aqui dentro, do que lá fora. Prefiro meu estado de conforto, aquele me dá o direito de reclamar disso tudo, mesmo sabendo que há uma saída. Afinal, do que seria da vida se não pudéssemos reclamar de situações que por preguiça, ou falta de coragem, não resolvemos? Por isso fico aqui, e assim permaneço. Mais sete dias, mais sete semanas. Abro o olho. Pisco. Fecho o olho. Saio para ver como é a vida atrás das grades, sim me arrisquei, e também me arrisco a gritar, “sou homem, sou homem!”. Benditas sejam as palavras de Bento Santigo. Mas não, não mereço o título de corajoso. Volto, e escrevo. Escrevo para consolidar minha situação de conforto já dita. E lembro. Lembro-me de uma frase que vi, e que por algum motivo, nunca esqueci: “Rotina é aquilo que passa pela sua retina”. O que será que quer dizer? Ops, o “tempo” passou depressa. Descanso as vistas. Passam-se mais sete dias. Insuportável é, mas o que farei? É meu castigo, meu fardo, minha sina. Sem nenhuma dúvida, a maior prisão do mundo é a rotina. E acho que peguei perpétua.