Atitude covarde

Esta história me foi contada pelo dileto amigo Levi Simões, homem de vasto conhecimento, do qual me valho em momentos de dificuldades culturais. Não fora o Levi, que me abastece com informações tão verdadeiras quanto engraçadas, as minhas crônicas seriam insossas, desprovidas de conteúdo e de humor, incapazes de desopilar o fígado de algum leitor melancólico. Aí, então, teria que recorrer ao Getúlio Rodrigues, outro expert que me auxilia em momentos de dificuldade literária.

Recentemente, Levi contou-me a história de três mulheres casadas, nascidas em diferentes regiões do Brasil, senhoras com vivência entre intelectuais, sindicalistas e políticos que hoje dominam o sofrido e espoliado Brasil.

Uma delas, Emília Mantovani, nasceu em Lagoa Vermelha, Rio Grande do Sul, em 13 de outubro de 1965. A moça era a segunda filha de um casal de origem italiana. Loira, bonita e muito prendada, tinha sua beleza e habilidades domésticas invejadas pelas gurias de sua cidade natal. Aos vinte e três anos, Emília desposou Raul, também descendente de italianos. Depois de alguns anos, o marido transferiu a residência da família para Porto Alegre.

Às sextas-feiras, embora cansados da labuta diária, os Mantovani esbaldavam-se nos fandangos da vizinhança, dançando rancheira, polca, xote e mazurca. Renato, o primogênito da prole, dançava a chula, espécie de desafio que consiste no sapateado de diversas formas. Após uma sequência de passos, outro dançarino executa os movimentos. Vence a competição aquele que apresentar a coreografia mais ousada.

A outra mulher da história chamava-se Ondina e residia em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais. Essa senhora era o exemplo pronto e acabado da anarquia que invadiu o serviço público brasileiro. Por ser egressa do movimento sindical, obteve emprego em repartição pública do estado, mesmo sem prestar concurso de proficiência.

Concluído apenas o ensino fundamental, Ondina tornou-se secretária executiva de importante fundação de seguridade social, entidade com mais de um bilhão de reais investidos em empresas de Érico Batuta, amigo e sócio oculto do filho de importante membro do PH2 – Partido do Homem Honesto, malfadada legenda envolvida em sérias irregularidades administrativas.

Finalmente, a terceira mulher descrita por Levi chamava-se Magnólia e nascera em Sobral, cidade cearense, conhecida pela arrogância de dois de seus filhos adotivos, oriundos do estado de São Paulo. Mag, como era conhecida no meio rural, exercia influência e liderança canhestra. Foi treinada por movimentos da esquerda recalcitrante, ávida por continuar locupletando-se do poder político e dos mais altos cargos eletivos, outorgados por uma população manipulada, inculta e preguiçosa, que vive atenta aos favores eleitoreiros.

O marido de magnólia era um bunda-mole, acostumado a manter-se à custa da mulher e de seus padrinhos políticos. Chamava-se José Dizomeu. O epíteto fazia jus à sua ganância financeira e por ser ele o primeiro a exigir o seu quinhão nos butins promovidos pela companheirada.

Certa vez, por ocasião de encontro realizado em Brasília, as três mulheres dessa história estavam presentes. Na ocasião, ficou deliberado que as senhoras casadas enquadrassem os respectivos maridos, exigindo-lhes participação ativa nos afazeres do lar. As tarefas caseiras deveriam ser divididas entre o casal, conforme projeto da ministra da Igualdade Doméstica. Terminada a assembleia, novo encontro foi marcado para o mês seguinte.

Trinta dias depois, a presidente da reunião escolheu as companheiras Emília, Ondina e Magnólia para comentar o resultado da experiência. Pediu-lhes que dissessem como os maridos haviam se comportado depois da exigência. A representante do Rio Grande do Sul informou o seguinte:

– Meu marido tem colaborado. Varre a casa, arruma a cama e lava as louças do café – disse em tom vitorioso.

– O Érico Batuta passou a ajudar, meio desajeitado, mas sem reclamar – disse Ondina, a representante de Minas Gerais. – Ele espana os móveis, prepara o almoço, banha o cachorro...

Restou a última declaração à Magnólia. Disse a representante do Ceará, agora integrante do movimento denominado Trabalhadores Com Terra, o famigerado TCT:

– Bem companheiras, falei com José Dizomeu sobre nosso pleito. Eis o resultado: No primeiro dia, não vi nada; no segundo, já vislumbrei algumas imagens, meio opacas, indefinidas... Somente no terceiro dia, quando os olhos desincharam, verifiquei que a casa estava um pandemônio. Tudo desarrumado!

Depois de ouvir de Levi a narrativa de horror doméstico, praticado pelo marido de Magnólia, disse-lhe:

– Meu caro amigo, os maridos devem ser solidários com suas esposas, ajudando-as nas tarefas domésticas, sem reclamar. Elas são joias preciosas. A atitude do Dizomeu foi uma grande covardia, passível da mais severa punição. Particularmente, amo minha mulher, com todas as veras do meu apaixonado coração. Não seria capaz de “bater-lhe nem mesmo com uma flor”, como disse o poeta.

Levi concordou com o que eu lhe dissera. Ele é bom esposo, sensível às reivindicações do belo sexo, encarregado dos mais árduos trabalhos da casa. Talvez, para ler esta crônica, tenha largado mão da vassoura, do roldo e do espanador, depois de se desvencilhar do avental que protegia a roupa que passara a ferro, há poucos instantes.