Gravidez de Amor
“Doce”. Se me pedissem para definir uma grávida em uma palavra apenas, seria esta. Muito além do que se pensa, uma gravidez não é uma simples gestação, tampouco um banal desenvolvimento. Há muito detrás daquela semiesfera de perfeição, esculpida gentilmente nos corpos mais lindos da natureza.
Gravidezes, há muito tempo, são indesejadas. Mesmo por mulheres que não possam sustentar suas crianças, ou simplesmente por aquelas que puramente não querem uma criança, esta terra já teve incontáveis gestações, incluindo apenas as da vida humana. O número, se contemplarmos todo o reino animal, é incomensurável.
No entanto, não há nada mais tenro do que uma mulher grávida. Não há nada mais amoroso do que uma pessoa que expõe seu corpo à mudanças hormonais violentas e estéticas, apenas para conceber uma nova vida, partilhando de seus nutrientes e proteínas para formar uma amontoado celular que o caiçara chama de criança. Indubitavelmente, a bioquímica nos salvaguarda essa constatação. Sem quebrar todo o romantismo acerca da gestação, mas somos, todos nós, seres viventes, desde um protozoário unicelular até o mais complexo dos metazoários, apenas arranjos diferentes de átomos, sempre os mesmos. A vida, a bem da verdade, é simplesmente um conjunto de reações químicas, um capricho da matéria, quase nada. Quase.
Aí, portanto, insere-se a efemeridade e fragilidade desta tão questionada, filosofada e esmiuçada vida. Contudo, insere-se aí, também, toda a maravilha natural do milagre da vida. Acredite se quiser, mas com apenas uma sequência de genes se faz uma pessoa. Acredite ou não, mas a cor azul dos olhos da sua esposa grávida, e os cabelos encaracolados do seu filho são condicionados através de átomos arrumados de determinada maneira. Átomos, que guardam informação, analogamente a um computador. Devo ressaltar que essa é uma das partes mais provocantes da genética. Como pode, ligações peptídicas, arranjando átomos de carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio, determinar a morfologia de um ser?
A perfeição de uma grávida pode chegar a impressionar até os mais vividos. Estar grávida é, de longe, o estágio mais lindo da vida da mulher: uma beleza incomparável, nos moldes da criação, delimitam todas as curvas, o ganho de peso, o aumento dos seios e engrossamento dos mamilos, que no conjunto, ficam carregados de leite, o néctar sagrado da criatura que está por vir. Via de regra, não existe grávida feia: você já viu alguma? A perfeição do imperfeito; a linea nigra, as muitas estrias que surgem nos glúteos e por vezes na barriga, o modo de andar, a sensibilidade, o aumento da temperatura do corpo, a total afetividade da mãe; no conjunto, formam o panorama delicadamente angelical de uma gravidez. Uma gestante não é passível de violência, de berros, muito menos de sexo. É uma entidade que encontrou um caminho lento e progressivo a caminho da luz, um elemento real que, sozinho, perfaz um novo; é algo que deve ser protegido e amado a todo custo. Protegido e amado. Deve-se dar apoio à futura mamãe, mostrar a ela o quanto está linda, deixa-la sem vergonha de seu corpo, muito pelo contrário, enaltece-lo. Se houvesse um grande concurso de beleza universal, no qual diferentes espécies competiriam pelo título de maior formosura, era necessário apenas enviar uma mamãe gestante – ela venceria disparadamente.
Muita gente não entende como uma gravidez se processa. Vamos aos pormenores:
Tudo começa quando duas pessoas trocam o olhar do amor. Aquele olhar, muito especial, no qual um demonstra interesse pelo outro, cujos efeitos são alterar toda a fisiologia dos organismos e condiciona-los à atração e, futuramente, ao amor. Quando o amor se estabelece, finalmente, ocorre o lindo ritual da concepção do feto. O pai, de maneira suave e calorosa, deposita seus gametas (sua informação genética) no útero da mulher, até chegar ao óvulo. Tendo os espermatozoides chegado neste, os dois núcleos finalmente fundem-se, e a célula-ovo, ou zigoto, começa a segmentação (ou clivagem). Divisões sucessivas da célula acontecem, dando origem a um maior número delas. No primeiro mês, o embrião já está formado, e o feto deixa de ser um bolo celular para ser uma vida em curso.
No segundo mês, o feto já tem uma estrutura parecida com a de um humano, mas levemente deformada, e em forma de “C”. O coração já bate e outros órgãos formam-se.
No terceiro mês, os membros locomotores já se formaram e apresentam dedos, inclusive unhas. O bebê apresenta uma grande cabeça, com nariz e pálpebras.
Quarto mês. A criança já nota alterações de luminosidade e difere sabores. A lanugem, uma camada de pelos, aparece para protegê-la.
Quinto. O sexo já está definido, e o feto tem a capacidade de mover seus membros, inclusive flexionar os músculos faciais.
Sexto mês. A vernix caserosa, uma substância cuja função é proteger a pele, já surge. Evita que o líquido amniótico (a solução em que a criança fique imersa) represente danos a ele. O bebê já apalpou o âmnio, o que lhe deu as impressões digitais; seu rosto está definido.
Sétimo mês. Nascem cabelos e seus sentidos ficam ainda mais apurados, bem como o desenvolvimento dos órgãos internos.
No oitavo mês, o bebê já respira e os ossos ganham resistência. O feto tem, além disso, uma camada de gordura sobre seu corpo, que o ajudará a regular sua temperatura, quando do nascimento.
Nono e último mês e, decerto, o mais admirável. Os “últimos retoques” são feitos, e a criança está pronta para nascer.
Ah! Nasceu. Agora, a mamãe deve apenas cuidar e amar, para que ele seja, no futuro, um adulto saudável e bondoso, bem como ela mesma.
Os pais da criança passam por uma experiência determinante e muito séria em suas vidas. Infelizmente, muitos não desejam ter filhos, e quando um acaba sendo feito por acaso, é abortado. Esse tipo de picardia é o que corrompe as pessoas e tiram a inocência infantil. Muitos não sabem o que é ser pai de verdade – e provavelmente, nunca saberão.
O detalhe mais importante é deixar que tudo ocorra naturalmente, com acompanhamento médico, é claro. Mas o que importa mesmo, é propagar a vida e fazer a sua manutenção, sendo que o maior tesouro da espécie humana sempre foi e sempre será ela mesma.