A gorda e a margarida

Andando pela fazendo de seu pai, Érica via toda a fartura que o meio rural poderia proporcionar. Tão gorda quanto uma baleia, para falar a verdade, uma gordíssima de pele alva cujas pelancas vibravam mais do que copo de água quando passa a boiada desembestada, Jasmim contemplava as margaridas, próximas à ela, no jardim que era o xodó da mamãe. Com um pote de doce de leite pastoso na mão, e uma colher na outra, a gordota apenas contribuía para sua imagem redonda, ao comer, comer, comer, comer.

Jasmin sempre reclamou que ninguém queria namorá-la. Mas é óbvio: quem em sã consciência namoraria alguém feio? A bem da verdade, é justo e necessário dizer que o amor é construído, mas a atração depende da pessoa que, se não for atraente, nunca viverá uma paixão. Ou você já viu alguém sofrendo de dores por uma pessoa cuja aparência não é das melhores?

Entre o prazer do amor e o prazer da comilança, a jovem escolheu este. Olhava a margarida, magra, alta e esbelta, com uma linda corola e belíssimo cálice. Abaixou seu monstruoso peso para sentir o cheiro da estrutura hermafrodita. Nada sentiu. Levantou-se, e ficou observando aquela margarida, tão linda, tão graciosa, gentil, uma flor do paraíso que os deuses permitiram aos homens possuir.

Pisoteou a margarida até que esta virasse apenas uma gosma vegetal revirada. Meteu a colher no meio do pote, tirando uma porção que apenas ela conseguiria comer. Foi embora, com a boca suja.

Alberto Fitzgerald
Enviado por Alberto Fitzgerald em 05/08/2013
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