Nas Águas do Mar Egeu

Costumo cumprir a palavra. Prometi sequenciar os comentários sobre recente viagem que efetuei a Israel, Grécia e Turquia. Nos dois primeiros textos – Encontro e Reencontro e Diário de um Viajante –, datados de 05 e 23 de junho, respectivamente, discorri sobre os lugares visitados, sem detalhá-los. Foi quase um roteiro do passeio. Agora, trato dos detalhes. Vejamos, pois:

No dia 24 de maio de 2013, acordamos cedo. Às 7h00. Arrumamos as malas, tomarmos café e ficamos no hall do Hotel Museu (ostenta essa denominação por se encontrar na rua de um dos museus de Atenas), no aguardo do ônibus que nos levaria ao porto.

O navio Louis Olympia nos conduziria às ilhas de Creta, Éfeso, Mikonos, Patmos e Santorini. Uma viagem sonhada pela maioria do nosso grupo. Muitos, como eu, faziam sua primeira navegação marítima, a bordo de um transatlântico.

O mar ingente, com suas águas aniladas, tão azuis quanto uma imensa aquarela pintada por renomado artista, nos saudava com as boas vindas de Poseidon, o deus do mar, na mitologia grega. As ondas embalavam a grande embarcação, nosso transporte e refúgio pelos próximos três dias.

Depois do embarque, feito de forma organizada, em fila indiana, recebemos as chaves das cabines, não tão espaçosas. Em seguida, fomos ao convés, para as devidas instruções. Recebemos orientação de como nos comportar em caso de eventual naufrágio ou contratempo marítimo que exigisse maior atenção. Os salva-vidas foram colocados individualmente em nossos corpos da forma correta e segura.

O navio era de porte médio. Excetuando a tripulação, cerca de mil passageiros compartilhavam seus generosos espaços: dois restaurantes, cassino, cafeterias, bares, auditórios, lojas de variadas atividades, elevadores e diversos corredores divididos por centenas de cabines para dois passageiros. O convés abrigava duas grandes piscinas e varandas espaçosas. A comida era farta e, em alguns casos, saborosas. A carne de cordeiro... oh!

Depois de algumas horas de navegação tranquila, aportamos para visita à ilha Mikonos. Desembarcamos do navio e fomos de ônibus até o agradável destino. Ficamos maravilhados com a beleza do lugar. Prédios incrustados em altos montes, pintados invariavelmente de branco, todos bem limpos, sem pichações, as ruas ostentando uma limpeza de dar inveja às artérias urbanas de nossas pobres cidades sujas.

Andamos por vielas íngremes, com o mar à vista em todas as direções em que fixávamos o olhar. Uma maravilha! Um presente de Deus que não sabemos aquilatar. O Seu inefável amor por nós, filhos rebeldes, não pode ser expresso, pois sua grandeza é infinita.

Na manhã de 25 de maio de 2013, desembarcamos em território turco, no porto de Kusadasi, para visita à ilha de Éfeso, de sessenta mil habitantes. Situada na costa ocidental da Ásia Menor, fica próxima à Selçuk, província de Esmirna, na Turquia, na costa do Mar Egeu.

A Turquia é um país de pequena extensão territorial, com apenas 800 mil quilômetros quadrados. Encontra-se entre dois continentes: 4% na Europa e 96% na Ásia. 99% da população turca professa a religião mulçumana. Falarei desse interessante país em oportunidade futura.

Éfeso foi fundada por Androclus, filho de Codro, líder dos jônios, em 331 a.C. Também era chamada Esmirna. A Bíblia cita-a pelos dois nomes no Livro do Apocalipse (capítulo 2), quando João escreveu às sete Igrejas da Ásia. Oportunamente, tratarei desse tema. A propósito de religião, em Éfeso existiam seguidores de variados credos: egípcios, gregos, romanos e judeus.

A cidade pertenceu ao império romano. Durante a ocupação, foi a segunda maior de suas colônias e também a segunda do mundo, sob os aspectos populacional, econômico e cultural, principalmente. Perdia, em importância, apenas para Roma. Nessa época, sua população era de duzentos e cinquenta mil habitantes.

Construído por volta do ano 550 a.C., o Templo de Ártemis, deusa da caça e dos animais selvagens, também conhecida por deusa dos bosques, foi o maior templo encontrado pelos arqueólogos. Media 80 metros de comprimento por 50 de largura e compunha-se de 127 colunas de mármore. Em volta dele foram encontradas reminiscências de suntuosos palácios que foram ocupados pelos romanos, que o conheciam por Templo de Diana.

O Templo de Ártemis foi destruído por um grande incêndio e reconstruído por Alexandre III, da Macedônia. Também foi arrasado por ordem de São João Crisóstomo. Enfurecida, a multidão destruiu outros monumentos importantes. Reconstruída pelo imperador Constantino I, a cidade, classificada entre as Sete Maravilhas do Mundo, foi mais uma vez devastada, desta feita por um terremoto, no ano 614. Hoje, restam poucos vestígios dessa maravilha. Apenas destroços, espalhados pela campina, e uma solitária coluna a ele atribuído.

Éfeso era rica, não apenas materialmente, mas, sobretudo, culturalmente, destacando-se: escolas de filosofia; um dos maiores teatros do mundo de seu tempo, com capacidade para vinte e cinco mil espectadores; e uma biblioteca de grande expressão, que causou inveja à rainha Cleópatra, quando em visita às suas instalações. A fim de evitar que esse templo do saber e da cultura efésia se tornasse superior aos de seus domínios, a soberana egípcia proibiu a importação de pergaminhos, sem o que não se produziam livros.

Na terceira maior biblioteca do mundo, na época, encontravam-se quatro estátuas, significando: Sabedoria, inteligência, conhecimento e virtude. Esses quatro pilares sustentariam o mundo em que vivemos, não fosse a ausência da virtude, qualidade moral desconhecida de muitos dos nossos governantes, legisladores e juízes.

Os efésios eram assíduos frequentadores da biblioteca, nas proximidades da qual existia a Casa do Amor, um ambiente de prostituição que fazia a alegria dos homens e provocava a ira das mulheres. Os homens, visando evitar maiores problemas conjugais, cavaram um túnel que ia da biblioteca à casa das “mulheres de vida fácil”. Dessa forma, tinham como justificativa para o tempo ausente do convívio familiar, os estudos e pesquisas que diziam realizar, com exagerada frequência.

Estrabão, geógrafo que viveu de 64 a.C. a 25 d.C., descreveu Éfeso como “o maior centro de comércio exterior que havia na Ásia”. Uma inscrição em pedra, atribuída ao imperador Constantino, foi encontrada por arqueólogos, com os seguintes dizeres: "Éfeso é a mais ilustre de todas as cidades da Ásia".

O cristianismo prosperou muito na cidade, difundido por Paulo e João, pregadores inspirados pelo Espírito Santo de Deus. A igreja de Éfeso foi mencionada por João, no Livro do Apocalipse, juntamente com Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Leodicéia.

Até o nosso próximo encontro literário!