Essa dor que é tão minha

 
     Olho para a tela do celular e leio: mensagem recebida. A abro e me surpreendo com o seu conteúdo. É alguém que me pede ajuda, que diz não suportar mais sua agonia, que tem medo... Medo do que sente, medo de não poder criar seu próprio de filho com apenas 10 dias de nascido. É a minha irmã, é o seu grito de socorro que chega até mim. Ele me faz despertar outro grito, há tempos esquecido em minhas lembranças. Relembro e compreendo a sua dor, essa dor que é tão dela, essa dor que é tão minha e de tantos outros que passam por ela. Cada qual com o seu motivo, e são tantos os motivos, cada um em especial e ninguém ou quase ninguém é capaz de compreendê-lo. Primeiro pelo fato de nunca haver experimentado uma dor assim, segundo por não ter a sensibilidade suficiente para compreendê-la, mesmo nunca a tendo experimentado. A DOR DA ALMA. As vezes ela surge por algum motivo forte, outras vezes ela surge do nada, sem qualquer motivo aparente.
     Minha irmã teve síndrome do pânico há alguns anos, foi ao psicólogo, tomou alguns medicamentos e melhorou. Uma crise terrível eu presenciei, ela gritava que estava com um lado do rosto e do corpo dormente, que estava tendo um ataque cardíaco e que iria morrer. Seus dedos endureceram, suas mãos curvaram-se para dentro e eu, minha outra irmã e meu pai a levamos as pressas para o hospital. Na minha mente ela estava tendo um derrame cerebral, ou mesmo um ataque cardíaco, sei lá! Qualquer coisa que poderia levá-la a óbito ou que até mesmo poderia estar possuída por algum espírito (eu já havia presenciado um possesso e o movimento cruzado dos dedos era o mesmo). Fui orando no carro a caminho do hospital, graças a Deus próximo a minha casa. Chegando lá a entregamos ao médico para examiná-la, minha outra irmã entrou com ela. Depois de alguns minutos pudemos entrar para vê-la. Pergunto o diagnóstico a minha irmã ainda nos corredores, antes de chegar ao quarto: uma crise diz minha irmã, ela tá com síndrome do pânico. Fiquei muito surpresa com a notícia, já havia escutado falar na tv, mas, nunca imaginei ter ao meu lado, tão próximo de mim, alguém que estava passando por isto.
     Penso que as dores da alma têm sempre os mesmos sintomas : angústia, desespero e medo. E quantas vezes evitei falar da minha. Até mesmo porque creio eu que só existe uma solução para curar-se dela: esquecê-la, ignorá-la. Não é fácil, é um longo caminho. Porém, ela nunca irá se extinguir totalmente, nem tudo se cura com o tempo como muitos falam, não a dor enraizada na alma. Como bem diz Marta Medeiros “O tempo não cura tudo. Aliás, o tempo não cura nada, o tempo apenas tira o incurável do centro das atenções.”. E para isso precisamos de ajuda, alguém que nos escute, que nos compreenda, que nos auxilie nessa passagem, da morte a novamente a vida. Podem ser amigos, familiares, alguém em quem confiamos muito, psicólogos, psicanalistas, psiquiatras. Uma boa conversa alivia bastante ou até mesmo, e principalmente, uma boa oração. No meu caso, optei pelo o que estava ao meu alcance e pela forma em que eu acreditei que poderia curar a minha dor. E Deus me trouxe um anjo... Porque só os anjos colocados por Deus na terra são capazes de nos compreender e eles podem ser qualquer um desses já citados acima.
     O anjo enviado por Deus até mim tinha o perfume de uma rosa e uma voz calma e aveludada, por isso atendia pelo nome de Rosineide. Ela nunca riu-se de mim, nunca desejou-me o mal, somente o bem e era capaz de verter lágrimas por mim, mesmo não me conhecendo tão bem. Pedia-me para que ligasse para ela a qualquer hora do dia ou da noite, quando achasse necesário. E eu usei e abusei da sua paciência... Necessitava de consolo.... E ela com suas palavras e orações me ofertava doses sublimes de conforto e de paz. Enquanto, outros, até os que se diziam meus amigos, me alfinetavam pelas costas e riam-se as custas da minha angústia e sofrimento. Talvez porque seja mais fácil para muitos julgar ao invés de compreender. Desses eu me afastei e por algum tempo, em que eu achei necessário, fechei-me como uma ostra, guardando para si as suas pérolas.
     Apesar de tudo a dor também é um grande aprendizado, ensina-nos o quanto somos fortes, embora não nos consideremos assim, ensina-nos o que seja superação, ensina-nos que nem todas as pessoas são confiáveis, e principalmente, o quanto é grande a nossa fé no Deus que é maior.
     
     




Márcia Kaline Paula de Azevedo
Enviado por Márcia Kaline Paula de Azevedo em 16/07/2013
Reeditado em 16/07/2013
Código do texto: T4389334
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