O nome do livro
Por muito tempo busquei um título para o meu livro. Os nomes surgiam e logo eu os esquecia. Até que um dia, assistindo a um programa de TV
sobre " Grandes setões: veredas", de João Guimarães Rosa, um comentário, em especial, chamou minha atenção: um simples detalhe sobre como Guimarães Rosa termina o livro com a frase: Travessia (aliás, ele usa muito esse termo nessa maravilhosa obra...). Foi como um estalo! Na hora me agarrei ao título "Travessia" e tudo começou a fazer sentido!
Naquele momento eu estava terminando o poema "Minas", em homenagem ao meu pai, um mineiro arraigado e apaixonado por Guimarães Rosa. Lembrei que no meu livro, tem um poema chamado "Travessia"... E de repente, quase que no mesmo instante, meu pensamento voou e foi lá atrás, quando eu, menino ainda, tomei um belo banho e coloquei, pela primeira vez, uma roupa de sair, como se diz lá em Minas... Era noite. Fui assistir uma apresentação da UEC ( união estudantil católica)no colégio das freiras, lá na minha querida Passa Quatro, onde ouvi, pela primeira vez também, a música "Travessia" de Milton Nascimento e Fernando Brant.
Essa inesquecível noite, foi um divisor de águas em minha vida, porque até então, meu negócio era jogar bola, nadar nos rios e roubar laranjas nos quintais dos vizinhos. Minha infância era isso e a vida era maravilhosa.
Mas ali, naquele instante, enquanto ouvia Travessia, cercado de meninas bonitas e perfumadas, fiquei arrepiado e deslumbrado com aquele mundo que eu não conhecia. Um sensação, que eu nunca havia experimentado, tomou conta de mim, me inebriou. A partir daquela noite nunca mais roubei laranjas. Travessia.
A vida é uma travessia,
da hora da chegada, à chegada da hora.
E nesse espetáculo maravilhoso, que nos é dado,
uns remam, outros rimam...
zino mendes