O passageiro da cidade apressada

Tudo tem um momento para terminar e outro para renascer, e era assim que os homens e as mulheres haviam construído suas sentenças mais íntimas. Nossos contemporâneos começavam abandonar suas mais antigas formas de representações, sendo que todos os sonhos de uma época começavam a ser modelados, recalcados, catequizados, destruídos e inabitados pela tão chamada ditadura da razão.

O mundo como a cidade são lugares duros para a sobrevivência da poesia genuína. A incerteza beirava o caos da angustia, quando certa vez relatou um passageiro apressado de uma das grandes cidades que passavam pela veia de um poeta. A segregação começava pelas frases, durante dias os homens se conflitavam e se afligiam em contradições. Quando o espaço do pensamento é a anatomia da política das almas, o seus controles são dados via mídia. Quanto mais humilde for o animal humano, mais dócil ele se apresenta ao seu senhor, sendo que esse sabe o custo de sua pele no valor de mercado.

Por onde passávamos víamos pessoas sem alma, que não se olhavam, não se reconheciam e nem se descobriam mais como seres que ocupavam o mesmo espaço de vida.

O mundo se revelava como um lugar sem rosto, onde tudo era brigado sem palavras, e quanto mais estranho éramos uns aos outros, mais buscávamos refugio em prazeres artificiais, de tecnologias burocratas. Quanto mais violentos iam se tornando, mais seguranças pediam como remédio. A guerra de todos contra todos era travada nos asfaltos, na boca das favelas, nas prisões dos movimentos dos carros, e no fluxo dos desejos inconstantes.

No mundo novo havia aqueles que até mesmo diziam, eu tenho fobia de gente, pois o ser humano é o câncer do mundo, e se eu ficasse na frente de um eu cuspia em sua cara. O niilismo contemporâneo das grandes cidades resultava na tendência que os homens absorviam de amar com todo ódio aqueles que lhe eram diferentes. A companhia de outro humano nem sempre era bem vista. Eles arregalavam os olhos e ainda diziam, preferiam ter um gato ou cachorro do que um outro humano ao lado. Começávamos assim a alargar as distancias. Então não haveria mais vizinhos para as tardes de sol.

A família se tornava uma fortaleza, e era dela que nascia toda a moral, e tudo o que ia contra sua natureza, como um perigo para a formação e pureza das normas cívicas de convivência.

Desviamos sentidos, porque não queríamos ver aquilo que era diferente, então fizemos das regras uma patologia, e separamos o que não cabia dentro dessa verdade. Essa realidade era uma instituição que habitava o coração de muitos que nem saberiam de onde veriam esse pensamento formado por aqueles que se fazem donos dessa moral vigente. Era como uma historia invertida que da qual não existia sujeito para interpretar as suas condições mais próprias. Havia alguma nova forma de linguagem que revelavam que os homens saíram de seus fornos como o barro. E eram todos tão parecidos que alguns não tinham boca. Eles ficavam sentados e tinham as suas mãos amarradas por panos em que estavam escritos os seus murmúrios mais íntimos que não conseguiam expressar. Sem rostos eles não tinham cara, havia apenas uma mascara em que cada um usava para se apresentar ao mundo que passava.

De. Fernando Henrique Santos Sanches

Pensamentos sobre o Ser Humano Contemporâneo.

Fernando Febá
Enviado por Fernando Febá em 11/06/2013
Reeditado em 11/06/2013
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