Alguns passos
Alguns passos
Se não fossem os passos lentos, que mais pareciam marcar o espaço, o tempo, o olhar hora solto e por momentos procurando atingir algum ponto. O ar levemente frio, com certas folhas jogadas ao chão, o desejo ardente de esquecer, não existir, apenas mais uma tarde em meio a tantas outras espalhadas pelos calendários, com datas pré-definidas de rotinas sem fim.
Apenas a cor amarela parece lhe chamar atenção, o vermelho cansado de velhos amores, de tantos ardores derramados, não faz mais a diferença que precisava, que tanto buscava. De todos os desejos passados em vida, os arrependimentos surgiram do que foi posto como forma negativa, mesmo sendo tão únicos, tão inteiros e tão seus.
As calçadas lentamente engoliam seus pés, os prédios tão aclamados e tão velhos em alguns momentos, pareciam sumir com seus sonhos, a cidade mais parecia um organismo vivo, pulsante, cujo único objetivo era deixar seu dia mais cinza, mais agressivo, mais dolorido.
Placas que procuram dar ordens ao invés de indicar, duvidas e medos perambulantes disfarçados com roupas cuidadosamente escolhidas para causar alguma falsa impressão.
Um esbarrão, uma palavra solta, um pedido de socorro em forma de sorriso. O vento segue, levando com sigo o rumo do acaso, o impulso do inesperado, acompanhado pelo vai e vem dos carros, pela garoa que começa a cair, pela pressa em não molhar com novo frescor as velhas hipocrisias.
O barulho já não faz mais diferença, em alguns minutos o silencio absoluto toma conta, tornando tudo tão frágil, tão vulnerável. Como quem pouco caso faz, continua indiferente a tanta falta de paixão ao seu redor, como quem com um simples toque se adapta facilmente a forma petrificada de vida na qual esta ligeiramente acostumado a viver.
Abre e fecham lentamente seus olhos, como quem de forma simples fala para si mesmo, recomeçar é apenas uma questão de teimosia e sentir uma opção de pessoas invisíveis, que persistem em colorir.