ACADEMIA, PROFISSÃO E SUCESSO
Se me fosse oferecido um púlpito para voltar a transmitir a meus filhos, ex-alunos, parentes e amigos considerações sobre vida acadêmica, profissão e sucesso, ocorrer-me-ia, acima de tudo, exaltar a façanha do vestibular e do ingresso na universidade, já que chegar ao nível acadêmico foi, ou é, a conquista da mais árdua etapa da epopeia estudantil. Depois, que o conhecimento que se adquire não é uma dádiva da Faculdade, mas trunfo pessoal fruto de interação com professores, livros e desafios da realidade. A formatura é valiosa porque, no mínimo, representa persistência, compromisso e esforço. Não quis, neste passo, falar em “sucesso”, pois é palavra bastante desgastada na sociedade moderna: quase um perigoso rasgo ideológico neoliberal. O mercado de trabalho é uma guerra de guerrilha, uma sucessão de acertos e desacertos, uma luta permanente que não se mede pelo dinheiro conseguido, pela glória midiática ou pelo termômetro da nossa vaidade, mas pelo exercício correto da cidadania, pelo esforço de fazer o melhor, pela nossa responsabilidade e pelo reconhecimento legítimo que alcançamos. Para nossa turma de formandos de 1970, a Faculdade de Direito da UFRGS, com suas virtudes e defeitos, mostrou-nos satisfatoriamente o multifacetado mundo do Direito, no plano teórico e no da realidade. De um lado, professores jovens, ainda em formação, mas com bastante energia e empenho, e, de outro, grandes Mestres, figuras conspícuas, ícones jurídicos, que desfrutavam prazer em derramar conhecimentos e cultura, como nosso Paraninfo inesquecível, Clóvis Veríssimo do Couto e Silva, um dos maiores civilistas pátrios. Seria, entretanto, injustiça invocar apenas os notáveis da velha UFRGS, como Ruy Cirne Lima, Armando Câmara, Elpídio Pais, Paulo Brossard de Souza Pinto, Galeno Velinho de Lacerda ou os irmãos Clóvis e Almiro do Couto e Silva. Creio que praticamente todos nos acrescentaram algo e nos abriram janelas para o Direito, para as outras ciências e para o mercado de trabalho. Mas o grande mérito não foi da Faculdade ou dos Mestres, mas de todo aquele aluno com olhos abertos e focados no horizonte. Isto vale também para aqueles que nunca exerceram a advocacia ou, mesmo, mister jurídico. É preciso dizer que o poder dos ícones encanta e impressiona, mas não pode atemorizar: ou eles foram, como parte de nós, reles mortais, ou tão diferenciados, intelectual e culturalmente, que qualquer comparação torna-se incabível. Melhor, então, deixá-los em paz, no seu justo e merecido pedestal. Os nomes mais luzidios do mercado profissional também não duraram para sempre e foram substituídos, com o mesmo talento, por colegas contemporâneos, em quem talvez não apostássemos todas as fichas, mas que, pelo trabalho e pertinácia, chegaram lá. É preciso ter claro que um festejado nome, uma célebre grife, um vistoso rótulo tem o seu valor, mas não é tudo, não raro é até pouco nos embates do dia a dia, nas grandes e pequenas causas do mundo real. O importante a assinalar é que a realização profissional está muito além da vaidade, da jogada de efeito, da pompa, da riqueza ou dos instantes inebriantes de glória. O sucesso está no balanço de uma vida sem débitos sociais. É difícil, mas nem tanto. Diria, finalmente: não temam os tropeços e frustrações, é mais apropriado temer as vitórias retumbantes.