Me generalizou

"Juro que não estou com raiva. Estou indiferente, apenas isso. Na verdade, muito pior é a indiferença do que a raiva. Mas tudo bem, não quero me desgastar para explicar-te os porquês de ser pior não afetar mais alguém do que despertar emoções negativas.". Escrevi-lhe em um papel rascunho para que, mais tarde, pudesse mandar minhas palavras. Não agora. Pus em cima um peso de papel e sai. Sai, mas não sei para onde; sai porque estava cansada de respirar teu fantasma que me cobrava tantas soluções incabíveis a mim.

Peguei um metrô. Eu precisava ver caras novas e, ainda que depreciativo seja pensar assim, precisava ver rostos mais desgastados que o meu. Sim, estou desgastada, teu papo me cansou, não é chateação ou tristeza, apenas quero ouvir palavras não tão usuais.

Segui para o shopping mesmo detestando-os, mas detesto pelo mesmo motivo que estou indo para lá agora: É cheio de gente. Entrei pelas portas principais.

-Vai uma pipoca, moça? - um velhinho com um carrinho vermelho de pipocas me abordou no entra e sai de pessoas.

-Claro! por que não? Ponha leite condensado - Entreguei-lhe o dinheiro e o senhor me passava a pipoca junto com um "tenha uma boa noite" que sorria.

Passeei pelos corredores ainda meio besta por aquele "boa noite" ter sido tão agradável. Gentilezas estão raras. Frequentemente desviava-me de alguém que eu iria me esbarrar e derrubar minha pipoca no meio daquela multidão. Então eu percebi, tive a pior conclusão, me banalizou, me generalizou. Todos os rostos tinham a mesma expressão, todos tinham a mesma cara; a minha cara.