APAIXONADO, CEGO, SURDO E SEM NOÇÃO

- Alô.

- Oi, meu amor. Só agora consegui um tempo. Como você está? Tudo bem?

- Bem.

- Que bom, querida. Estou louco de saudade. Não vejo a hora de voltar para os seus braços. De ficar juntinho de você. É muito ruim ficarmos longe um do outro; né? Parece que o tempo não passa.

- É.

- Você está se distraindo, meu bem? Fazendo as coisas de que gosta? Espantando a solidão?

- Tô.

- Olhe, amor; não se preocupe. Em poucos dias meu trabalho aqui termina, e corro pra você.

- ...

- Estou trabalhando muito, mas é por nós. Para garantir nosso futuro. E é por pouco tempo. Logo a gente se casa com tudo o que tem direito, e passo a trabalhar pertinho.

- Tá.

- Bom; agora preciso ir. Queria ficar aqui, falando com você... passar a tarde... mas tenho que voltar ao trabalho. Ligo à noitinha; tudo bem?

- Sim.

- Até logo, minha vida...

- Té.

- Eu não vivo sem você!

- Eu também.

- Faço qualquer coisa por você!

- Eu também.

- Eu te amo mais que tudo!

- Eu também.

Cego, surdo e sem noção, de tanto amor, Maurício põe o aparelho no gancho e sai cantarolando... feliz da vida com os monossílabos e a máxima final de Anália. O "eu também" que a namorada fria e distante se permitiu responder.

O que Maurício não entendeu, e talvez nunca entenda, é que as últimas palavras de Anália, embora verdadeiras, não justificam seu entusiasmo.

O que a moça lhe disse, nas entrelinhas, é que também não vive sem ela mesma...

... Também faz qualquer coisa por si mesma...

... Também se ama mais que tudo.

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 25/04/2013
Código do texto: T4258495
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