BOATE AZUL

Romantismo nunca foi seu forte. Sempre preferiu a África selvagem a Paris romântica e bela.

A beleza física é que a tornava atraente. Um corpo escultural. Equilibrado em salto agulha provocava suspiros. Uma mulher extremamente sensual e sexy. O cabelo longo não passava sem ser notado, ladeava um rosto perfeito e sorridente.

As palavras lhe saiam desbotadas, quase sem efeitos. Trocou o estudo pelas aventuras adolescentes de menina rebelde.

Ainda muito jovem já desfrutava de elogios e apreços generosamente sedutores.

O primeiro namorado pouco significou. Não correspondia aos seus impulsos.

Mas tarde ao reencontrá-lo protagonizaram um beijo tão eloquente que lembrou o casal apaixonado de Casablanca. Contudo o romance não progrediu.

Assustado com o comportamento da moça o menino pego um voo e foi visto desembarcando no Charles de Gaulle.

Jovem, sentia-se invencível, despreocupada e muito acima de certos valores morais da sociedade. Era linda.

Sonho de consumo de muitos marmanjos. Sabia como poucas usar isso a seu favor.

Assim havia quem lhe pagasse as despesas da balada, dos almoços, de pequenos luxos ostentados com orgulho.

Entre romances e aventuras contabilizou lucros e perdas e considerou positivo. Amou alguns, foi amada por outros.

Via isso como uma vida ótima e intensa.

Mergulhada em minissaias e shortinhos extravagantemente pequenos não se preocupava com nada.

Por certo sempre encontraria alguém disposto a trocar prazer por certos benefícios.

Aos vinte e cinco sentiu que já não tinha mais a mesma influência junto ao seu fã clube. Teve, pela primeira vez, certo medo e uma queda na autoestima.

Num sábado de outono, já quase sem amigos por perto, sentiu-se depressiva e triste.

Fez sua primeira viagem de ida.

Voltaram-lhe, em fantasias, as boas sensações, a alegria e a vida sonhada.

A esta altura, servia seu público na conhecida boate azul. Entre risos, fumo, bebida e luzes já não mostrava o mesmo ânimo para viver.

Não demorou muito para encarar o último tango da vida.

Sua passagem não foi como em Ghost. Não teve beijo de despedida.

Apenas partiu.

A passagem tinha comprado alguns anos antes.

Moacir Luís Araldi
Enviado por Moacir Luís Araldi em 21/04/2013
Código do texto: T4252488
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