A gente sempre espera
Eu até falo que não estou esperando nada, mas no fundo a gente sempre espera. Um sinal, uma fuga, uma surpresa, uma resposta que dê sentido a toda confusão. A gente espera, porque esperar é humano. A gente idealiza. Cria expectativas mesmo sem perceber. A esperança brota no coração e é alimentada com cada fragmento "sem sentido" que o outro dê. Enquanto você fica aí fugindo das respostas, não dizendo nada com nada, criando mensagens subliminares e indecifráveis, meu coração vai se agarrando em cada ponta de incerteza que apresenta. Não tem o SIM ou o NÃO. É vago. Não tem garantia nenhuma. E enquanto a garantia não vem, a mente viaja e o coração que padece: de uma desordem sem tamanho de achismo. Não dá para ler o que o outro está dizendo, não dá para sentir o que o outro sentindo, não dá para descobrir o que ele quer nos dizer. E isso sufoca. Dá trabalho. Rouba o sono. Tira o sossego. Perturba o equilíbrio e a troco de quê? De idealizações malucas que a mente criou em companhia do coração que se manteve ocupado em sentir tudo e no mínimo sentiu tudo errado? Não dá para fugir, a gente sempre espera algum retorno, algum sinal de fumaça, alguma resposta mágica. E é esperando demais que a frustração aparece, que o rosto amanhece borrado pela maquiagem e os olhos sorriem inchados. Esperar demais do outro é machucar-se a toa. É andar sozinho na corda bamba sem direção e sem a certeza de que dará certo e você não cairá na próxima curva.
[Marcely Pieroni Gastaldi]