Manicômio (crônica Lírica)
Todos foram extintos do meu convívio social. Não há mais risos nos fins de tarde, nas madrugadas frias do mês de Junho. Não há sequer, as sensações corriqueiras nos dias monótonos desse diferente ano.
A inexistência da alegria é algo assombroso! A veracidade dos fatos é terrível, absolutamente indescritível. Caminho desolado pelas esquinas desertas, sobre as calçadas empoeiradas, sob os olhos malditos da competente tristeza. Estou em um mundo aparentemente morto, onde o majestoso silêncio apalpa minuciosamente todos os cantos, com as suas mãos depressivas...
Um nevoeiro voraz e cinzento, começa a tomar conta dos arredores, nesse instante tão mórbido e real. Onde estão todos que seguiam junto a mim? Por que não sinto o aroma suave da natureza? Alguém por favor, me dê uma mísera resposta! Espero por longos minutos, encosta
do em uma porta de mercearia, mas, os sons esperançosos não aparecem. Não escuto bsolutamente nada, sequer consigo ouvir o barulho do vai e vém das melancólicas ondas. Os meus tímpanos
estão inaptos...
Ah! A linda praia permanece ali, com as suas areias amareladas e infinitas. Caminho bem lentamente à beira de dezenas
de conchas, que estranhamente, formam um corredor longínquo por onde passo. Vou seguindo com o olhar perdido no horizonte...
Mas, onde está o bendito horizonte? Observo atordoado, que fora engolido por algo sinistro! A linha perfeita que alinhava
os grandes e esbeltos navios, não existe mais. Observo atônito, somente uma negridão aterrorizante, que desfalece em segundos
o meu perturbado semblante. Corro feito louco por uma estrada que surge de repente à minha frente. Ela estaria quase deserta,
não fossem as flores acastanhadas que se movimentam em sincronia. Ouço insultos provenientes de suas ásperas pétalas, e gar-
galhadas enlouquecedoras por longos minutos. Será que estou louco? Não posso depositar a minha crença nesse fato, por isso
continuo a correr pelo extenso trajeto abstrato...
A noite apareceu como de costume, trazendo na bagagem a intensidade de seu negrume. Sinto o pavor percorrendo todo o
meu desestruturado corpo. Estou só, completamente sozinho e desamparado. Sento em um pequeno banco, situado em uma
simplória praça, e choro. Olho para o nada, para o vazio concebido em meu turbulento e imaginário mundo, e choro...
Por horas eu permaneço nesse pedacinho de chão, e encolho-me arredio e desesperançoso.
Exausto ao extremo, durmo instantaneamente até o raiar do dia. Desperto com muitas mãos agressivas em torno de mim,
com palavras ofensivas que por incrível que pareça, não ferem a minha alma. Introduzem pequenas pílulas pela secura de minha boca,
e lancam-me sobre um frio leito. A porta se fecha, e encontro-me só novamente. Levanto da cama, e sigo até a modesta janela.
Obsevo na faixada do estabelecimento, em um letreiro grande e azulado: Manicômio Estadual. Cerro os olhos por alguns segundos,
por causa do efeito do remédio que acabara de ingerir. Mas, antes de cair em um sono profundo novamente, avisto a persistente negridão
sobre a linha do saudoso horizonte.
http://alexmenegueli.blogspot.com.br/ 08/04/2013