O Falso Pensamento De Que ´´Educar É Fácil´´.
´´ Se eu fosse professor, iria apenas deixar as crianças brincar´´. Essa foi uma das frases que não saíram da minha cabeça desde do momento que foram ditas. De uma certa forma, entendi bem o que queria dizer com isso. Realmente, a brincadeira deve sempre fazer parte da vida da criança, é natural e necessário. Mas, há de considerar um grande erro pensar que o ato de educar é apenas ´´deixar´´ a criança brincar, naturalmente, sem se importar com o contexto que ela se encontra no ambiente escolar.
Diferente do sistema tradicional, em que chicotadas e cintadas na mão é bastante comum e ´´educativo´´. Hoje, apesar de ainda estarmos atrelados ao tradicionalismo, dando muito mais importância aos conteúdos do que com a realidade vivenciada pelo educando, nós educadores aprendemos também com a teoria que a criança deve ser valorizada e não mais vista como um objeto que nada sabe e nada pensa.
Assim como o adulto, a criança necessita de algo que a inspire e a conduza para o conhecimento. Necessita de algo concreto para aprender e tentar entender esse mundo desconhecido que é para ela, logo nos primeiros anos de vida. Para a criança, tudo é novo, tudo é questionado, tudo é surpreendente e belo. O que para nós adultos, tudo não passa de coisas simples, necessárias, cansativas. A nossa vista já está cansada porque não conseguimos mais pensar coisas que nos parecem impossíveis e inalcançáveis como a criança pensa e sonha. Por isso, essa curiosidade já aliada ao homem desde o momento que nasce deve ser aguçada. É principalmente através da curiosidade do mundo que a criança chega ao conhecimento e passa a enxergar o outro e não também a si mesmo. Conhecimento, este que nunca acaba e apenas se transforma.
Mas , voltando à frase inicial do ´´deixar as crianças brincarem´´ e à falsa ideia que ela aponta, mesmo que discretamente. O educar brincando exige muito mais do que coisas materiais, como bonecas e carrinhos. Exige orientação, entendimento e conhecimento. Quem conduz a aprendizagem precisa saber que tudo o que fazemos deve ter um fim, um objetivo a ser alcançado pela criança. Se peço para brincarem com uma corda, estou dizendo a elas que precisam desenvolver o equilíbrio e a memória. Se peço para brincarem de bola, estou apresentando também que assim como no jogo, na vida existem regras, que devem ser respeitadas, perpassando por momentos de superação, vitórias, perdas e a importância de se viver em grupo.
Também não é só isso. Quando digo que é preciso entender o contexto escolar que a criança se encontra, significa entender as suas relações, conhecer a sua vida, as suas dificuldades, a sua família, o que assiste, o que pensa e o que lê. É preciso intervir nos momentos que as pegamos com uma palavra inadequada, seja um simples palavrão ou uma ofensa, mesmo que no fundo, nada saiba o que realmente quer dizer e seja de forma espontânea e despretensiosa. Afinal, a criança não é um objeto, é um ser que pensa diferente do adulto, mas que segue e aprende por meio dos seus exemplos.
Dizer que educar é simplesmente deixar que as crianças brinquem, significa desprestigiar o trabalho do educador e colocá-lo numa posição muito mais inferior do que o encontra. É simplesmente dizer, que o objeto para a criança é muito mais importante do que sua presença e que apenas isso ( o material) é capaz de suprir a sua carência familiar, quando as distanciam dos pais. Educar não é fácil, nem tampouco impossível, mas convenhamos que ela exige sabedoria, conhecimento e acima de tudo estímulo.