DEPOIS... DO FIM DO MUNDO
Astrogésimo olhou-se no espelho e disse, com convicção, pra si mesmo:
- Que fim de mundo que nada!
Faltavam poucas horas – segundo Os Maias – para o fim do mundo. Mas, Astro não tava nem aí, pra conversa-fiada de que o mundo acabaria daqui a pouco... O cara rodopiou o corpo em frente ao espelho e gritou:
- Esse cara sou eu!
E se achando o tal... E todo se querendo. Vestiu um bermudão estampado, enfiou os dedos numa sandália e jogou a regata no ombro e desceu a rua zoando o plantão:
- Maias? Perdeu playboy! É "nóis", seus manés!
Entrou no beco, mirou o boteco e não pestanejou:
-Seu Galdino... O Galdino bota uma do barril, antes que tudo vire cinza...Hahahaha!
Tomou a talagada num gole só e riu de todo mundo que tava naquele cospe-grosso. Astrogésimo – Astro pros mais chegados - era mesmo desse jeito. Ele não acreditava nessas coisas que vinham não se sabe de onde... Mas, o cara adorava levar vantagem! O sujeito tinha tirada pra qualquer lero-lero:
- Eu não me impregno pelo ouvido, não! Galdino, não me venha novamente com conversa pra-boi-dormir! Os americanos pisaram na lua uma pitomba... Isso é coisa de Hollywood!
E como Astrogésimo era fissurado por uma aposta... Ele sempre terminava questionando o seu interlocutor:
- Teima ou aposta Galdino? Bota a cara mister M! Então, coloca aquela que matou o guarda! Essa ficará na conta dos...
- Astro! Astro, voce deveria levar as coisas mais a sério... Deveria ficar ligado com as troços do mundo! – Disse-lhe o dono do boteco.
- Não to nem aí! Isso é papo-furado de gringo, que só quer faturar as nossas custas. E os otários ainda acreditam! Galdino... Ô Galdino derruba outra branquinha, que essa é por sua conta e não reclame porque pra onde voce vai não precisará de dindin... Hahahahaha!
Agora, faltavam 10 minutos pra tudo ir pro beleléu. No boteco? Somente Galdino e Astrogésimo... Esse já estava pra lá de marraqueche...
- Astro... Ô Astro todo mundo já meteu o pé! E eu quero encerrar os trabalhos...
- Que se dane todo mundo! Um bando de bundas-mole! Bota... Bota outra... Escorrega mais uma na minha goela! Essa... Essa vai ser por minha conta... Peraí, que mané-conta? O mundo não vai acabar? Então, bota na conta do Abreu!
E, outa vez, caiu numa estridente e debochante gargalhada.
- Olhe bem, Astro, vou lhe servir a saideira... Cidadão-de-Deus voce não tem dó de mim, não? faltam apenas 5 minutinhos e eu também quero passar com a minha nega-véia e com os meus moleques!
E o botequeiro deu a expulsadeira pro chato do bebum e no sapatinho começou a descer a pantográfica e fechou os trabalhos resmungando:
- Ufa! Até que enfim... Faltam apenas 60 segundos. Agora, posso ir sossegado!
Na rua, Astrogésimo estava ao léu. E não se via nem alma-penada a um palmo do nariz! Tudo um breu! Uma escuridão medonha e um silêncio tumular... Abandonado – igual a um cão sarnento - o cara tomou a última birita. Olhou pro relógio. Rodou em torno de si mesmo... Agora, faltavam 10 segundinhos pro fim de tudo. E Astrogésimo ali sozinho e com cara de cachorro que peidou na porta da igreja! Então, deu à hora H... E se ouviu uma barulheira infernal. Um foguetório da porra! Um carnaval fora de época! Era o mundo se acabando em todos os becos e ruas... Após a ressaca, de manhãzinha, todos se perguntavam onde estava metido o Astrogésimo.
- Cadê aquele fio-da-zunha! Aquele fanfarrão de uma figa!
Dizem as más línguas que Astrogésimo, durante a balbúrdia da madrugada, pegou os seus paninhos-de-bunda e escafedeu-se... Easy Rider! Meteu o pé! E ninguém sabe pra onde... Sabe por que? Porque com essa onda d'Os Maias: O Astro um-sete-um passou a perna em todo mundo!
-Hahahahahahahahahaha...