Beleza Pura
No dia 25 de setembro de 2012, minha esposa, nossa filha mais velha e eu, viajamos de Praga para Viena. O percurso foi feito em ônibus fretado pela agência de turismo Abreu. A programação inicial previa ida à Bratislava, capital da Eslováquia, antes de chegarmos à Áustria. Todavia, uma pane no ônibus da excursão alterou nossos planos. Como resultado, ficamos parados por cinco horas e quinze minutos dentro do veículo, às margens da autoestrada, aguardando o lento socorro mecânico. Foram momentos difíceis. Senhoras e cavalheiros suportavam com dificuldade os incômodos provocados pelas bexigas abarrotadas. Alguns, por necessidade ou por ousadia, adentraram o mato para desfazer-se da urina que ameaçava romper o saco musculomembranoso, situado na cavidade pélvica. A sede também atormentava os passageiros, que de nada dispunham para saciá-la. Sanado o problema, prosseguimos viagem. Fomos primeiramente a Viena e, no retorno, com destino à Hungria, finalmente conhecemos Bratislava.
Estivemos na terra de alguns dos mais famosos compositores da música clássica: Wolfgang Amadeus Mozart, Franz Schubert e Johann Stauss. Outros nomes de escol, embora não nascidos na Áustria, escolheram Viena para residirem e exercitarem suas habilidades musicais, atraídos pela acolhida dos Habsburgo. Cito alguns, como Ludwing Beethovem e Johannes Brahms, como mera referência. Deixo de mencionar outros ilustres compositores para não tornar a lista extensa, pois, nomear um a um, implicaria na produção de copiosa relação.
Nossa estada em Viena foi rápida. Chegamos à noite e fomos direto para o hotel, onde jantamos e depois nos recolhemos para merecido repouso. No dia seguinte, após o café, fizemos ligeiro passeio pela cidade, enquanto nos dirigíamos aos pontos turísticos que seriam apresentados por uma jovem senhora, nosso guia, de origem austríaca, fluente no idioma português.
Antes de descrever os locais visitados, transmito ao leitor algumas informações sobre esse país, cuja capital nos fascinou, a ponto de ser a eleita por nós, da família Braga, a mais atraente entre as capitais por onde passamos: Lisboa, Praga, Viena, Bratislava e Budapeste. Sem desmerecer a beleza arquitetônica e histórica das demais localidades, confessamos nossa admiração por Viena, a capital da música na Europa. Minha família e eu já planejamos breve retorno à bela metrópole, a fim de conhecê-la melhor.
O país situa-se na Europa central, limitando-se com a Alemanha e a República Theca, ao Norte; Eslovênia e Itália, ao Sul; Eslováquia e Hungria, a Leste; Suíça e Liechtenstein, a Oeste. A República da Áustria abriga 8,3 milhões de habitantes, falando a língua alemã. Cerca de 90%. Grande parcela da população, algo em torno de 70%, professa o catolicismo romano, existindo outras denominações cristãs, como os luteranos e os católicos ortodoxos. O islamismo soma 4,2% dos que vivem na Áustria.
Em 1938, o país foi anexado à Alemanha, pelo regime nazista. Esteve nessa condição até o final da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Em 1995, passou a integrar a União Europeia e, em 1999, adotou o euro como moeda divisionária.
Na Áustria, nasceram o médico neurologista Sigmund Freud e o também médico, Karl Landsteiner, que recebeu o prêmio Nobel de medicina, em 1930. Outras ilustres personalidades do mundo científico honraram a nacionalidade austríaca. No presente, o espírito de nacionalidade, o dever cívico e o nível intelectual de seus cidadãos dignificam e engrandecem a nação.
Apesar de lá terem nascido expoentes das artes, das letras, da música e da ciência, também nasceu nesse país Adolf Hitler, sanguinário ditador nazista. O infernal e ensandecido personagem é originário da pequena localidade de Braunau-Am-Inn, na fronteira com a Alemanha. Sua cidade natal fez parte do império Austro-Húngaro. Foi em 20 de abril de 1889, que veio ao mundo essa excrecência humana. Segundo nossa cicerone, cujo nome infelizmente não recordo, o país cassou a cidadania de Hitler, em protesto pelos bárbaros crimes cometidos contra a humanidade.
Agora, falarei do que vimos em nossa rápida visita a Viena. Estive na Catedral de São Estevão, acompanhado do grupo excursionista, tendo minha esposa e filha como assessoras para assuntos fotográficos. Elas fizeram uso das máquinas sem qualquer limitação, enquanto eu fazia apontamentos e falava ao gravador, a fim de não deixar escapar o mínimo de informação que iria compor modesto livro, após retornar da viagem.
A Catedral de São Estevão foi construída durante os séculos XII a XVI. Depois de um incêndio, ocorrido em 1263, a nave principal sofreu substanciosa restauração. Outro incidente com fogo destruiu, em 1945, o telhado que foi refeito com a utilização de duzentos e cinquenta mil azulejos. A torre sul do santuário mede cento e trinta e seis metros de altura. Para alcançar o topo, será necessário escalar seus trezentos e quarenta e três degraus.
Altares, púlpitos, sarcófagos e o magnífico órgão, em cujo pedestal se encontra a escultura de um homem numa janela, completam a beleza arquitetônica e artística da catedral visitada. O sarcófago imperial, onde repousam os restos mortais do imperador Frederico III, é uma obra monumental. Foi edificado entre os anos de 1476 e 1513. A ele, juntam-se o altar de Nossa Senhora do Manto Protetor e a nave central, em estilo gótico, entre outras maravilhas da arte sacra, tão bem produzidas e expostas nesse magnífico relicário.
Visitamos o imponente Palácio Imperial. De 1278 a 1918, esse belíssimo colosso arquitetônico serviu de residência de inverno aos soberanos da dinastia Habsburgo. Ao longo dos anos, foram erguidas novas construções até formarem um complexo de prédios de arquitetura e estilos diferentes. No conjunto palaciano, constam algumas maravilhas arquitetônicas e artísticas, como a capela da corte, o pátio da guarda suíça, o tesouro imperial, a biblioteca nacional, a porta de São Miguel e outras dependências que não saberei citar.
Numerosas esculturas povoam a fachada principal do palácio. Entre elas, cito a figura de Hércules, filho de Júpiter e Alcmena, seres mitológicos da Grécia antiga. Nessa representação, a célebre figura, de força descomunal, domina um touro, segurando-o pelos chifres. A Porta de São Miguel está ladeada por doze esculturas de Hércules. No coroamento da fachada, encontram-se figuras representativas da justiça, da sabedoria e da força.
Conhecemos o interior do Palácio Real, onde moraram o imperador Francisco José I e a imperatriz Elisabeth, a Sissi. Francisco José I nasceu em 1830 e faleceu em 1916, enquanto Sissi veio ao mundo em 1837 e o deixou em 1898, assassinada por um dissidente político.
A cerimônia de casamento de Sissi com o imperador Francisco José I ocorreu em 1854. A festa começou no dia 24 de abril e somente teve fim uma semana depois. A ela, compareceu toda a realeza europeia. O imperador era apaixonado pela esposa. Inicialmente, deveria casar-se com a irmã de Sissi, Helene, de dezoito anos de idade. No dia do noivado, Sua Alteza, ao conhecer Sissi, resolveu desposá-la e não a irmã. Sissi tinha, naquela oportunidade, apenas quinze anos. Era uma bela mulher, que se cuidava para manter a silhueta esbelta e os lindos cabelos longos e dourados. Diariamente, sua dama de companhia dispensava duas horas para pentear-lhe a cabeleira.
A jovem imperatriz destacou-se por suas posições políticas e pelo cuidado e dedicação a seu povo, solucionando problemas sociais, valorizando a educação e o sexo feminino, na sociedade machista da época. Era admirada e venerada por seus súditos. Talvez, por suas posições em benefício da nação húngara, da qual se tornara rainha, tenha sido assassinada por um dissidente político, que lhe ceifou a vida, em Genebra, na Suíça.
Sissi foi retratada em filme, que assisti compenetrado. Alguns leitores talvez tenham feito o mesmo. Parte da película a que me reportei foi filmada nas dependências do Palácio Imperial. A seguir, tentarei descrever, num esforço de memória e apelando para as gravações de minhas retinas, impregnadas de belas imagens, a opulência dos cômodos reais. Visitamos salas decoradas com extremo bom gosto, com móveis expostos em requintados ambientes, como biblioteca, salas de estar e de refeições, cuja mesa, denominada Mesa de Banquete, dispunha de vinte e quatro cadeiras, destinadas a membros da realeza; quartos de dormir, toucador para tratamento da beleza feminina, como da imperatriz Sissi; gabinetes para reuniões sociais e parlamentares; salões de jogos, de festas e de recreações infantis. E muito mais vimos: lustres riquíssimos, pendentes de tetos trabalhados com esmero, candelabros de prata e de ouro, paredes exibindo telas pintadas por renomados artistas, destacando-se as do imperador Francisco José I e da imperatriz Elizabeth, Sissi, em tamanho natural, de autoria do pintor Winterhalter.
Também conhecemos o Tesouro Imperial. Ali, encontra-se a maravilhosa coroa imperial, em forma octogonal, datada do ano 950, com doze pedras preciosas, na parte frontal, simbolizando os doze apóstolos. A cruz imperial, a espada de São Maurício e o globo imperial são relíquias de inestimável valor patrimonial, artístico e cristão, bem guardadas no valioso tesouro. Com esses motivos, o imperador considerava sua autoridade submissa ao poder Divino, consubstanciado na Cruz de Cristo.
Integrando o complexo arquitetônico imperial, existe o Palácio Belvedere, composto de duas unidades distintas, identificadas como Belvedere Superior e Belvedere Inferior. A construção obedeceu ao desejo do príncipe Eugênio de Saboia, que utilizava o Belvedere Inferior como residência de verão. Esse belíssimo complexo palaciano foi concluído em 1725. Em seus maravilhosos jardins, vislumbram-se magníficas esculturas, entre elas, duas esfinges constantes da mitologia grega, com o corpo de leão, asas e cabeça de mulher. Nesses espaços floridos, existem fontes de água jorrando a alturas impressionantes, como as das fontes de Netuno e das Ninfas. Um pouco acima da Fonte de Netuno encontra-se o Monumento Gloriette, erigido em 1775, para homenagear o exército imperial.
Por último, estivemos na Torre do Danúbio, um miradouro de duzentos e cinquenta e dois metros de altura. Um elevador rápido nos conduziu ao terraço, de onde vislumbramos toda a cidade, a cento e sessenta e cinco metros do solo. Lá, fomos recebidos e brindados com champanhe. Alguns tomaram chá; outros, refrigerantes. Enquanto isso, víamos as águas do rio Danúbio correrem mansamente pelo leito viçoso, oferecendo-nos uma vista inesquecível.
Para encerrar nossa estada em terras vienenses, jantamos em restaurante típico, ao som de violino e acordeom, tocando músicas regionais. Para agradar aos turistas, em grande número e de variada nacionalidade, naquela noite festiva, os músicos nos brindaram com melodias de nossos países. Em nosso caso, tocaram Aquarela do Brasil e Está Chegando a Hora.
Gostaram? Caso seja positiva a resposta, poderei contar-lhes sobre nossas andanças por Praga e Budapeste, igualmente maravilhosas.