O Batizado de Luciana

Apareceu-me, certa vez, uma candidata ao cargo de “auxiliar do lar”. Na entrevista, ela deu-me apenas um número de telefone para referência. Como eu estava precisando de ajuda com urgência, porque lecionava na parte da tarde e não tinha com quem deixar meus quatro filhos ainda pequenos, contratei-a de imediato. É verdade que seu jeito me agradou e ela veio morar comigo, pois não tinha família.

Tudo estava transcorrendo normal. Maria do Carmo era de pouca conversa e sempre demonstrou muito carinho no trato com as crianças. Mas despertou-me a atenção um “pequeno”detalhe. Ela, quando em minha casa chegou, era magrinha e não é que a cada dia ela me parecia mais gordinha? Resolvi, com o maior jeito, conversar, mais de uma vez, com Maria do Carmo, para que pudesse ajudá-la melhor e ela sempre desconversava. Dei algumas dicas e nada. Tive que ir direto ao assunto, mas ela negou. Percebi, então, que ela queria caminhar sozinha e respeitei seu direito ao silêncio. Fiquei, entretanto, de prontidão para qualquer emergência.

Alguns meses se passaram e, um dia, ela me disse que iria visitar a tia e não voltou. Um dia, dois dias e nada da mocinha aparecer. Fiquei muito preocupada e liguei para o número que ela havia me dado para a referência. Liguei para os hospitais e nada, nenhuma notícia!

Vinte dias se passaram. Uma noite, lá pelas duas horas da madrugada, acordei com batidas na janela da sala que dava para a rua.

- Quem é? Perguntei.

- Sou eu, a Maria do Carmo.

Abri a porta e lá estava Maria do Carmo com uma criança embrulhadinha nos mantos, dizendo que a menina estava muito mal. Olhos fechados, com uma palidez total, acho mesmo que já sem vida. Minha primeira reação foi correr com a menina e batizá-la na pia do banheiro. Seu nome era Luciana.

Levamos depois aquele serzinho para o hospital, só para a mãe, em prantos, ouvir do médico de plantão o veredicto final.