Restaurante
Era só mais uma menina que almoçava no mesmo lugar que eu todos os dias, sempre algumas mesas atrás da minha. Havia sempre uma pequena distância entre nós; quanto digo que a distância era pequena, refiro-me a distância física. Vira e mexe, quando eu tomava fôlego para trocar uma mísera palavra qualquer, alguém chegava e puxava a cadeira vaga ao seu lado. Esgotava-se todo o meu ar. Acontece que o problema não era a distância ou a dificuldade de comunicação, era o fato dela ser apenas uma garota que tinha bochechas que me despertava o impulso de aperta-las. Eu não sei a cor dos seus olhos, não sei qual prato ela pede todos os dias, nem sei se diversifica muito o que come. Sei que todos os dias ela está lá, naquela mesma mesa, as vezes aparece com óculos e outras vezes sem e que seus cabelos castanhos são presos em um tipo de coque, enrolado neles mesmo e vivia soltando; por isso toda hora tinha que ser refeito.
Estou escrevendo sobre uma menina que mal sei o nome, mas que conquistou minha atenção de alguma forma. Ela é bonita; mas isso é tudo, nada demais, nada de menos. Ela está aqui agora, na mesma quarta mesa na frente da minha (sentido de quem chega). Ela está sorrindo, sorrindo sozinha. Sorrindo para alguém, sorrindo para ela; porém considero como se estivesse sorrindo para mim, porque ela está, ainda que não saiba disso. É o tipo de sorriso que você se orgulharia de fazê-lo brotar. Seu sorriso tomava conta do teu rosto; meio rosado, meio pardo; todavia o mais incrível é como os olhos delas sorriem juntos, a forma como eles se curvam e se estreitam para ceder espaço à felicidade. Ela podia ser uma garota qualquer, mas seu sorriso com certeza não era.
A garota se levantou e pagou sua conta, deixando, em seguida, o restaurante. Deixei meu prato limpo sobre a mesa, já acabou o sorriso, já acabou minha razão de estar aqui fingindo almoçar. Confesso, no entanto, que me assombra a ideia de como eu reagiria caso visse uma lágrima escorrer por detrás daquelas lentes.