(Re)vira e não volta

Senti-me fraco; fraco e covarde. Eu tive que suportar me ver no fundo do poço, enquanto todos a minha volta se reerguiam majestosamente, eu era o único que não apresentava melhoras, e com isso eu ia me afundando cada vez mais em mim, me acolhendo, algo que ninguém mais conseguia fazer. De repente, estava mais sozinho que nunca. Parecia que as pessoas me viam como um leproso, porque o fato delas estarem bem, era a justificativa de não se envolverem muito comigo, que estava mal, àquela altura péssimo. Ouvi tanto “Já saí dessa” mergulhado em sorrisos, eu sempre fui aquele que não se salvava, que estava extremamente mal, que virou o ano com os mesmos problemas. Bom, inicialmente eu não estava sozinho em minha perdição, por pior que eu me sentisse, eu tinha quem se sentia igual, quem me entenderia, quem não me julgaria por estar do jeito que eu estivesse. Outrora estava sozinho nessa, todos haviam se curado; e eu, eu perdi a vacina, era a anomalia, era incompreendido, criticado, julgado, deixado de lado, esquecido.

Ora, mas quem era que estava bem mesmo? Esperei o momento certo, agora ergo meu queixo e declaro com convicção à todos os meus anomálicos: Eu estou bem. A diferença é que eu não tenho recaídas considero-me no quase auge da minha sanidade. Lamento a todos os leprosos, mas não vou me deixar infectar novamente. E é bom, é bom se sentir forte pela primeira vez, é bom poder escrever sobre algo que transmita superioridade. Porque hoje todos eles que acabaram por disser-se saudável, espirram, tossem e vomitam, e se acham bem por não conhecerem o real significado de “saúde”. E eu, eu estou vacinado, recuperado e entendido. Hoje eu que não compreendo-os.