Carta escondida

Totalmente desnecessário. Não sou idiota e não vou acreditar em suas histórias fantásticas em detrimento do que estou presenciando. Cansei de viver pintada de palhaço, se acham que vou maquiar um grande riso vermelho pela minha deficiência de sorrir, estão muito enganados. Acontece que dessa vez estava fazendo as coisas certas, ao menos tentando, mas os resultados inesperados não foram fruto de falta de esforço. Pare de me dar migalhas e pregar que matou minha fome. Só estou exausta de só fazer tudo e minhas recompensas não serem equivalentes aos meus trabalhos, porque eu só faço ceder, mas ceder muito mesmo, abri mão até de quem sou. Para isso só um recado que eu quero deixar bem claro: Não vou ser ninguém além de quem sou.

Sem drama, sem surpresa. Todos nós já esperávamos por isso, principalmente quando os sintomas coincidem com o das outras fracassadas tentativas. Querendo ou não, eu fiz; e agora é tarde para qualquer lamento. Mas tanto faz, quem morreu fui eu, morri de definitivo, e morrer ou não é uma escolha minha, totalmente minha. Não se preocupem, pois meu ateísmo não me deixará tempo para me arrepender da minha decisão; partirei com alívio e com, enfim, alguma esperança. Não vou ficar ouvindo dizeres que estou exagerando os sentimentos, de fato, ninguém sabe o que passei nem o que senti e jamais irei gastar minha voz em múltiplos discursos e explicações em vão. Sempre fora assim, por mais que eu gritasse, minhas vontades emudeciam.

Mas eu me fui, eu quem escolhi; uma escolha minha para uma consequência minha. Lindo, não acha? Ver como a vida realmente funciona - ou deveria funcionar-. Mas este episódio deixou um bom aprendizado: Nem tudo depende de ti. Contra a sua permissão matei-me, e me matei porque o corpo é meu, a alma é minha. Meu corpo, minha vida, minhas decisões.