A História de Amor mais Linda que já se Ouviu

Estava uma senhora já de idade avançada que permanecia sentada em uma cadeira de balanço à frente de uma imensa janela, olhando e admirando os pombos que se banhavam nos finos pingos de chuva que caíam sobre seu jardim. Encontrava-se acompanhada de sua bisneta de nome Flor, uma mocinha de quatorze anos de idade, que com a curiosidade aguçada cerra o silêncio perguntando:

– Vovó, quando que a senhora conheceu o vovô Pedro?

– É uma longa história cheia de sonhos, amor e sofrimento... Mas quero que antes de tudo saiba que vovô Pedro está vivo em nossos corações, está no canto dos pássaros, está nas nuvens deste imenso céu azul.

A senhora aparentando sonolenta, faz um olhar triste, e olha fixamente em direção das nuvens, onde naquele momento trazia um desenho lindo como se tivesse sido desenhado com pincéis, o que tornava a paisagem da janela ainda mais admirável. Enquanto isso a bisneta prevaleceu quieta, pensativa, cujo olhar triste completava ainda mais o silêncio sombrio, estivera questionando as simultâneas perguntas que exibiam em sua mente. E assim, continuou a observar cada movimento de sua bisavó, que neste momento estava se ajeitando na cadeira para começar a longa narrativa de seu único amor.

– Essa história é a origem de uma vida inteira vivida na solidão, não sei muita coisa acerca do amor, mas sei que tive algumas alegrias em minha vida, pois, orgulhosamente com 93 anos tenho uma filha, dois netos, e uma bisneta, apesar de houver momentos em que tive que passar por certas dificuldades. Mesmo tendo a saúde frágil vou contar a você minhas vitórias, minhas tristezas, mas principalmente minha paixão pelo seu bisavô.

Tudo começou no final do ano de 1930, em exato dia 23 de dezembro, quando completei meus dezenove anos. Eu sabia que tinha uma vida inteira pela frente, mas mal sabia eu que um qual rapaz que admirei passando em meu lado mudaria minha vida. Era ele um rapaz simpático, com olhares intensos que me gelava por dentro, eu sonhava, e como sonhava... Era o mais belo dos sonhos que pudera ter.

Recordo-me até hoje a primeira vez que vi Pedro, era um dia de quarta-feira eu precisava acordar cedo para ir à venda com meu pai. Pedro sorriu e cumprimentou-nos ao passar pela pracinha da cidade, dali em diante não consegui esquecer aquele sorriso lindo. Eu queria permanecer ali, mas não pude, tive que voltar e ajudar minha mãe a cuidar da casa e de meus sete irmãos. Apesar de toda essa dificuldade frequentei a escola primária até a terceira série, onde eu pude ao menos aprender a ler e a escrever, então, eu pude registrar os melhores momentos de minha vida em um diário secreto, o qual eu perdi recentemente na última grande enchente de 2003.

De repente um súbito barulho de trovão vindo do jardim interrompe a fala da senhora, fazendo-a similar melhor às próximas palavras em que iria dizer. Mas enquanto o barulho mantém a bisa avó permanece em silêncio e acaba atropelando as palavras.

Enfim, com uma voz tremula ela prossegue:

– Bom, o seu bisavô vivia me dando flores vermelhas e as palavras dele eram repletas de versos lindos que a todo instante acalentavam minha alma. Em um dia ele me convidou para o baile anual de Barueri, e eu de forma acanhada aceitei o convite com o coração explodindo de alegria.

O sol já havia se posto, as luzes da cidade começavam a ascender e Pedro era o rapaz mais bem apanhado daquela noite, enquanto eu: a moça mais ansiosa para vê-lo. Então quando ele chegou cumprimentou meus pais, e enlaçado seus braços aos meus, fomos em direção ao baile. Fora a noite mais linda de minha vida.

Semanas depois Pedro pediu a minha mão em casamento, meu pai concedeu e deu-nos como presente de casamento um pedaço das terras da Fazenda Tamboré. A cerimônia foi realizada na igreja matriz da cidade de São Paulo, no dia 18 de janeiro de 1931, em seguida teve a tão esperada festa, onde sem dúvidas foi a mais farta de Barueri, com leitão assado, farinha de milho e como acompanhamento muita música boa. Assim se deu o início de nossa história de amor...

Nós éramos tão unidos, íamos quase todo domingo passear na cidade, fazíamos pic-nic, colhíamos frutas do pé juntos, galopávamos a cavalo ao redor de toda a fazenda. O ano de 1931 foi o mais feliz para nós dois, em abril descobri que estava grávida, meses depois tivemos a melhor colheita de milho, o que ajudou a arrecadar dinheiro. E no dia 31 de outubro nasceu Clara, minha única filha, sua avó, Pedro e eu a cada dia que passava ficávamos mais felizes.

No entanto, a alegria não permaneceu no próximo ano. Infelizmente Pedro foi convocado a participar da Revolução Constitucionalista que teve seu início dia 9 de julho de 1932, foi uma verdadeira Guerra Civil, contando apenas com o apoio do sul do Mato Grosso, São Paulo enfrentou o poder militar das forças armadas federais. O resultado foi a rendição e derrota paulista em 28 de setembro de 1932, cerca de três mil brasileiros morreram em combate, e um deles foi Pedro, seu avô.

Depois da morte de Pedro eu nunca mais amei outro homem, saí da fazenda e fui para a cidade, mas mesmo com tantas dificuldades consegui educar sozinha minha filha com o dinheiro que ganhava vendendo os bordados que fazia. Então com vinte anos eu me tornei a viúva mais nova e independente de Barueri. E agora no dia 28 de setembro de 2006 já fará 74 anos que essa saudade se instalou em mim.

As lágrimas caiam livres e suaves no rosto da senhora, e desciam em sua pele flácida e delicada com inúmeras expressões marcadas pelo tempo. Flor comovida com a cena abraçou fortemente sua bisavó, acariciou seus cabelos brancos e disse que a amava, e completou dizendo que jamais se esqueceria da história de amor mais linda que já se ouviu.

Leticia de Faria Trindade
Enviado por Leticia de Faria Trindade em 09/02/2013
Reeditado em 12/02/2014
Código do texto: T4131835
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