GOZAÇÃO
Em dezembro de 1.958 comecei trabalhar no primeiro cartório de notas, registro de imóveis e ofício da justiça, na comarca de São Sebastião-SP (Litoral Norte), a convite do tabelião senhor Severino Ferraz Costa.
Ainda meio bobão e sem malícia, no segundo dia de trabalho, quase no final do expediente, previamente combinados com o Jonjoca (João Elias de Moura), oficial maior, fui convocado pelos escreventes e auxiliares mais antigos que me solicitaram fosse até a venda do seu Valentim e comprasse um quilo de eletricidade em pó. Nem precisa dizer que esse escrevinhador, naquela época um tonto, saiu correndo pra atender ao pedido sem nada questionar. Até porque queria mostrar serviço e eficiência. Quando lá cheguei o pessoal da venda que já tinha sido avisado estava morrendo de rir. Como eu não sabia de nada pedi ao dono do armazém:
- Seu Valentim, o seu Jonjoca do cartório pediu pra o senhor mandar um quilo de eletricidade em pó.
E ele com um sorriso franco na face me perguntou:
- Como é o seu nome menino?
Ingenuamente respondi:
- Tininho. O meu nome é Benedito Clementino da Silva, mas todos só me conhecem por esse apelido.
E o vendeiro então falou:
- Tininho, diga ao Jonjoga que eu só tenho pacote fechado com quinze quilos. Aqueles pacotes pequenos de um quilo acabaram.
Eu voltei correndo para o cartório e quando lá cheguei todos riam a vontade de bocas e lábios arreganhados. Eu que não tinha entendido nada, ouvi a resposta do Jonjoca afirmando que estava tudo bem, e que outra hora me chamaria novamente para ir buscar. E o povo rindo e zombando nem perceberam o tamanho da minha ignorância.
Como eu não entendi nada nem me toquei que a gozação era comigo. A vida continuou e eu estava feliz por trabalhar num cartório. Era isso que me importava. Dias depois um dos rapazes que era escrevente mais antigo me chamou de lado e perguntou:
- Tininho, você não se aborreceu com eles por ter te gozado? Você sabe o que é eletricidade em pó?
- Não, eu não me aborreci e nem sei o que é eletricidade em pó. O que é?
E o meu novo amigo me explicou dizendo que não existe nada de eletricidade em pó; que era uma tremenda gozação pra me encher o saco e ver se eu ficava bravo. Como eu não me zanguei e nem revidei com austeridade eles pararam de brincar.
Leitores amigos, esta minha crônica bem humorada tem o objetivo de mostrar que os apelidos desagradáveis e jocorosos bem como as gozações só pegam se a gente der trela a elas.
Nota do autor:
Sempre quando escrevo algum texto de humor acabo voltando no tempo. Isso talvez porque antigamente, coisa de cinqüenta ou sessenta anos atrás, nós os caiçaras e os caipiras (matutos) quando íamos a alguma das tantas vendas ou armazéns existentes em nossa cidade, ali falávamos de tudo e invariavelmente alguém contava uma anedota (piada) ou um causo verídico ocorrido envolvendo alguém do nosso relacionamento.
Por isso é necessário explicar o que é uma venda ou um armazém, pois certamente os mais jovens, principalmente aqueles nascidos e criados no perímetro urbano de grandes cidades e capitais não imaginam o que seja.
Os famosos botecos ou “butecos” de periferia de uma cidade do interior ou de bairros das metrópoles, onde se vendiam de tudo um pouco, desde uma agulha até instrumentos agrícolas ou ferramentas para construções, tais como pás, martelos, caçambas, carrinho de mão, etc., eram carinhosamente chamados de venda ou armazém
Ainda meio bobão e sem malícia, no segundo dia de trabalho, quase no final do expediente, previamente combinados com o Jonjoca (João Elias de Moura), oficial maior, fui convocado pelos escreventes e auxiliares mais antigos que me solicitaram fosse até a venda do seu Valentim e comprasse um quilo de eletricidade em pó. Nem precisa dizer que esse escrevinhador, naquela época um tonto, saiu correndo pra atender ao pedido sem nada questionar. Até porque queria mostrar serviço e eficiência. Quando lá cheguei o pessoal da venda que já tinha sido avisado estava morrendo de rir. Como eu não sabia de nada pedi ao dono do armazém:
- Seu Valentim, o seu Jonjoca do cartório pediu pra o senhor mandar um quilo de eletricidade em pó.
E ele com um sorriso franco na face me perguntou:
- Como é o seu nome menino?
Ingenuamente respondi:
- Tininho. O meu nome é Benedito Clementino da Silva, mas todos só me conhecem por esse apelido.
E o vendeiro então falou:
- Tininho, diga ao Jonjoga que eu só tenho pacote fechado com quinze quilos. Aqueles pacotes pequenos de um quilo acabaram.
Eu voltei correndo para o cartório e quando lá cheguei todos riam a vontade de bocas e lábios arreganhados. Eu que não tinha entendido nada, ouvi a resposta do Jonjoca afirmando que estava tudo bem, e que outra hora me chamaria novamente para ir buscar. E o povo rindo e zombando nem perceberam o tamanho da minha ignorância.
Como eu não entendi nada nem me toquei que a gozação era comigo. A vida continuou e eu estava feliz por trabalhar num cartório. Era isso que me importava. Dias depois um dos rapazes que era escrevente mais antigo me chamou de lado e perguntou:
- Tininho, você não se aborreceu com eles por ter te gozado? Você sabe o que é eletricidade em pó?
- Não, eu não me aborreci e nem sei o que é eletricidade em pó. O que é?
E o meu novo amigo me explicou dizendo que não existe nada de eletricidade em pó; que era uma tremenda gozação pra me encher o saco e ver se eu ficava bravo. Como eu não me zanguei e nem revidei com austeridade eles pararam de brincar.
Leitores amigos, esta minha crônica bem humorada tem o objetivo de mostrar que os apelidos desagradáveis e jocorosos bem como as gozações só pegam se a gente der trela a elas.
Nota do autor:
Sempre quando escrevo algum texto de humor acabo voltando no tempo. Isso talvez porque antigamente, coisa de cinqüenta ou sessenta anos atrás, nós os caiçaras e os caipiras (matutos) quando íamos a alguma das tantas vendas ou armazéns existentes em nossa cidade, ali falávamos de tudo e invariavelmente alguém contava uma anedota (piada) ou um causo verídico ocorrido envolvendo alguém do nosso relacionamento.
Por isso é necessário explicar o que é uma venda ou um armazém, pois certamente os mais jovens, principalmente aqueles nascidos e criados no perímetro urbano de grandes cidades e capitais não imaginam o que seja.
Os famosos botecos ou “butecos” de periferia de uma cidade do interior ou de bairros das metrópoles, onde se vendiam de tudo um pouco, desde uma agulha até instrumentos agrícolas ou ferramentas para construções, tais como pás, martelos, caçambas, carrinho de mão, etc., eram carinhosamente chamados de venda ou armazém