RITA CADILLAC SEDUZIU MEU FILHO
Esta história aconteceu quando meu filho tinha lá seus cinco anos de idade. Levei meu baixinho para alugar um filme na locadora da Nêna e do Vá, um casal simpático que encontrou naquele comércio, uma forma de ocupação depois da aposentadoria e também uma maneira de espantar o risco de monotonia desta fase da vida e é claro fazer novos amigos.
Entrei na locadora e já me encaminhei para a seção infantil, via capa e lia a sinopse para escolher um filme bacana para assistirmos juntos, quando após um rápido momento de distração, olho ao redor e cadê meu pequeno? Me bateu um desespero, varri rapidamente toda o espaço da locadora lotada de gente, entre prateleiras de filmes, atrás do balcão, dentro do pequeno banheiro, e nada de encontrar aquele guri fujão.
Quando de repente, escuto uma voz espantada vinda do lugar mais improvável daquele estabelecimento. A voz vinha da “salinha dos pecados” ou seja, da salinha de filmes adultos, cerrada com uma cortina preta e logo acima uma grande placa com as seguintes descrições em letras garrafais “FILMES ADULTOS – PROIBIDO A ENTRADA DE MENORES DE 18 ANOS”. A voz dizia: - Papai, papai, vem ver, vem ver...” e continuava atropelando as palavras “...vem ver a mulher pelada...” e acrescentava ainda “ ...ela está pelada papai, vem logo senão você vai perder...”.
Não precisa dizer que fiquei aliviado por ter encontrado meu filho, mas por outro lado não sabia onde enfiar a cara com tamanha euforia do meu pequeno, que apontou a cabeça para fora daquele cafua da perdição, a fim de anunciar seu descobrimento e reforçar o convite para que eu conhecesse a tal mulher pelada. E assim gritava: “-Vem ver papai, o bundão da mulher pelada”. “Se você demorar ela vai embora, papai corre aqui”.
Ao som de risos contagiantes de todos os presentes (menos eu), fui logo ao resgate de minha cria antes que o pior acontecesse. Ao abrir as cortinas me deparei com espanto para a tal mulher pelada, que na verdade era um display em tamanho natural da Rita Cadillac, aquela ex- chacrete que depois de avó quis ser estrela de filme pornô. A maliciosa senhora se apresentava para meu menino em uma pose picante, onde em primeiro plano estava a famosa, enorme e já bem rodada bunda e em segundo plano aparecia sua pequena cabeça com o dedinho na boca e um sorriso pecador. Meu garoto com os olhos arregalados, apontava e falava: “- Eu não disse papai, olha aí a mulher pelada”. Olha aí este bundão... eu não disse?! Olha, ela tá sem roupa papai.” As risadas fora da salinha ficavam cada vez mais intensas e minha vergonha cada vez mais acentuada. Peguei rapidamente aquele pequeno e inocente transgressor pelos braços e me esvaí dali como um furacão.
Naquela noite antes de dormir, entre a leitura de uma história e outra para fazê-lo dormir, expliquei para ele com mais calma que existem lugares proibidos para as crianças e que o que vira era um display feito de papelão e não uma mulher de carne, osso e muita “abundância”. Logo retrucou: “- Mulher de papelão papai?! Não é mulher de papelão..ficava rebolando e até piscou e deu risada pra mim”. É claro que era uma mulher pelada de carne e osso.”
"-Tá bom filho, foi sua imaginação que viu, mas promete que nunca mais entra naquela salinha? Para variar também não aceitou sem tentar argumentar: “- Mais por quê papai?” Aí tive que apelar e contar uma daquelas mentirinhas brancas e fantasiosas para protegê-lo. “- Sabe o que é meu filho. Na verdade esta mulher pelada é um monstro e a bunda grande engole criancinhas, nunca mais entre lá, é perigoso.”
“-Monstro? ...engole criancinhas?”
“-Isto mesmo filho, nunca mais entre lá”.
“-É perigoso mesmo né papai. Nunca mais entrarei lá”.
“-Isto mesmo filho. Agora dorme que tá tarde. Boa noite filho.”
“-Boa noite papai.”
Ufa, que sufoco! Antes de também pegar no sono, pensei comigo, isto pode dar uma boa crônica. Um dia vou escrever esta história.