CONSTANTE
Mais uma crônica feita na pressa dos dias, na correria da cidade, fugindo da monotonia. Uma crônica que corre atrás do ônibus, levanta a mão e faz sinal e pede e corre. O calor da cidade é muito e a agitação das pessoas e das coisas também. A crônica é isso: cheiro, som, sol, braços e pernas e tempo que corre... E as palavras seguem num ritmo e a cidade segue em seu ritmo e as pessoas se amam e se encontram e se desencontram e um ritmo louco e fora de si e fora de si está o cronista também porque escreve o movimento das coisas. É fato: as coisas se movimentam e quando nos damos conta, outro mundo e outras pessoas estão vivendo e comendo e bebendo e rindo de piadas que não fazem sentido para nós. Mais uma crônica como um olho incansável sobre as ruas. Uma crônica vigilante. Constante. Constância é o nome de uma senhora que recolhe papelão. Ela segue com a sua carroça e canta. Ela vê a cidade e os imensos prédios. Tudo isso assusta a gente! Tudo isso! Papelão! E recolhe, comas mãos já cansadas, todo o papelão possível. É dinheiro para o fim do mês. Constância. Constante em seu trabalho de recolher papelão. Papel, o papel em que escrevo esta crônica é branco, limpo... O papelão de dona Constância é sujo, queimado. Há resto de comida que ela jamais experimentou. Minha crônica está tão longe de Constância e, ao mesmo tempo, tão perto. A cidade corre... A cidade corre... E eu termino a crônica porque o tempo pede outras coisas e eu preciso correr também... Ponto final.