O GRITO DO SILÊNCIO

Estava ouvindo uma palavra na emissora Radio Novo Tempo, e aquele locutor, Wesley de tal falava alguma coisa a respeito da arte da comunicação. Na exposição da sua palavra o radialista afirmava que em um diálogo, cada interlocutor tem a responsabilidade de se fazer entender em cinquenta por cento na sua comunicação, com o que não concordo visto ser necessário o percentual de cem por cento por parte de cada interlocutor. Ainda que não estivesse concordando com as afirmações do "comunicador", suas palavras me chamaram a atenção quando disse que algumas pessoas não conseguem se comunicar por não se fazerem entender.

O locutor dizia que pessoas que não conseguem se fazer entender, geralmente acham que são os outros que não as entendem.

Por que será?

Citou também a terceira lei de Newton que afirma que a cada ação cabe uma reação na mesma intensidade, numa mesma direção em sentido contrário. Ele citou essa lei para fazer uma analogia com situações onde uma pessoa se utiliza de expressões que causam, no interlocutor, reações semelhantes à citada Terceira Lei de Newton.

O que me despertou na fala daquele santo homem?

PROBLEMAS DE COMUNICAÇÃO

Ninguém deve acusar seu interlocutor de ser um mau ouvinte antes de analisar o princípio de causa e efeito. A reação do interlocutor, não é outra coisa senão o efeito daquilo que ele entendeu ao ouvir o que lhe foi dito. Por esse motivo é tão necessário fazer-se entender de forma clara, plena, inteligível e inequívoca, ou seja, com cem por cento de clareza.

Os resultados serão bem interessantes.

A aplicação do princípio de causa e efeito está intimamente ligada a situações vivenciadas por casais que não conseguem se comunicar de forma clara e inequívoca.

A falta de entendimento ao que foi dito ou ao que se fez reflete diretamente no comportamento daquele que não entendeu a mensagem do consorte. Mesmo que se argumente que não era intenção causar o desconforto, os efeitos negativos estarão presentes como resultado de uma comunicação ruim.

Dá-se o nome a isso de "barulho na comunicação".

É por esse motivo que tanto me chamou a atenção o que aquele homem estava falando.

Não são poucas as vezes que palavras ditas por um dos cônjuges chegam ao entendimento do parceiro como palavras de afronta sem que o mesmo tivesse, de fato, essa intenção. Mesmo que essa não tenha sido a intenção, o barulho na comunicação leva o outro a reagir de acordo com o que entendeu.

A maneira de se expressar é fundamental na comunicação. A Bíblia diz que a palavra dura suscita a ira, mas a branda desvia o furor. Porquanto qualquer gesticulação agressiva, a entonação de voz com volume exagerado, seja por um semblante carregado, seja pelo uso de palavreado forte entre outros elementos utilizados na comunicação, determina comportamentos resultantes e enseja a formação de um clima tenso e adverso.

Diante disso, o que fazer?

Opções:

1. Reagir e partir para um confronto “armado” em defesa de território. (Apresentar as minhas razões e dar o troco à altura).

2. Usar de longanimidade e não explodir no “bate pronto” considerando que cada um conhece o cônjuge que tem, deixando os ânimos se acalmarem e depois chamar o parceiro (a) para uma conversinha de “pé de orêia”.

3. Escolher o silêncio por antever o clima de guerra que uma conversa desgastante e infrutífera com o cônjuge pode provocar, ou seja "desconsiderar".

Qual melhor escolha?

Fica evidente que a opção dois é a mais sensata, porém, por uma questão de comodidade escolhemos exatamente aquelas que apontam para as "minhas razões".

As opções um e três surgem imediatamente em primeiro plano, mas em situações aonde os ânimos estão exaltados o raciocínio fica toldado por certos neurotransmissores liberados pelo cérebro no momento estressante.

A escolha pela opção um certamente não é a melhor por que assegura um clima de guerra constante onde a manutenção do território particular de cada um não permite uma convivência pacífica e compartilhada, mas pior ainda é a escolha pela opção três. O silêncio.

Porém...

A escolha pelo silêncio tem um preço.

Não vai acontecer estresse como resultado dessa escolha, mas, em contrapartida, um sentimento desconfortável contra o parceiro será arquivado e trará danos estruturais à relação.

Um arquivo de mensagens silenciosas cheias de ressentimento e dor se forma nas emoções do tímido cônjuge. No entanto, essas mensagens aparentemente abafadas pelo silêncio se expressam em tom mais alto do que palavras lançadas em altos brados. Talvez não pelo volume, mas muito mais pela clareza da sua voz.

O Silêncio, às vezes grita.

Não existe mensagem mais eloquente do que aquela que vem do silêncio.

Na arte da comunicação tem-se que valorizar todas as fontes onde se podem obter informações. Não convém abrir mão de nenhuma delas. Às vezes, informações preciosas deixam de ser encontradas porque algumas dessas fontes ficaram relegadas ao esquecimento. Por mais contraditório que pareça, investigar o silêncio de alguém pode nos levar a entender as mensagem mais complexas de forma simples porque o silêncio “grita” muito alto e revela com clareza o que esta acontecendo.

Não existe mensagem mais eloquente do que aquela que vem do silêncio.

O silêncio é o grito que ficou preso na garganta.

O silêncio, por si só, é a mensagem mais explícita dentre todas.

O silêncio geralmente denota insatisfação.

O silêncio é a vontade que ficou travada no momento de sua partida para a conquista.

O silêncio é a explosão da raiva que, impedida de cumprir sua função primordial, vê-se obrigada a implodir para dentro de si mesma.

Nem sempre uma mensagem dita com todas as palavras para todos ouvirem é a mensagem mais clara porque, em seu bojo, pode trazer laivos de mentira e dissimulação.

O silêncio, porém não mente porque não é feito com palavras... ou meias palavras...

Geralmente o silêncio é direcionado a alguém.

O silêncio nunca é dirigido à coletividade, por isso é objetivo, claro e inequívoco.

O silêncio não é produzido e nem feito com meias palavras.

O silêncio revela intenções.

Aquele que é alvo do silêncio sabe perfeitamente qual a mensagem que lhe está sendo transmitida.

O silêncio o reporta à raiz do problema.

O silêncio é direcionado a alguém como uma mensagem de repúdio ao que se fez ou ao que foi dito, ou ainda ao que se propôs.

Ainda que se diga que "quem cala consente" o silêncio nunca foi e nunca será um gesto de aprovação, pelo contrário, é um brado de indignação. Soa mais alto do que o mais alto grito.

O SILÊNCIO NÃO É SIMPLESMENTE FALTA DE BARULHO.

O silêncio não é sinônimo de covardia.

O silêncio não é ausência de indignação.

O silêncio não quer dizer desistência.

O Silêncio avança como um grito em direção às profundezas da alma, tentando esconder dos críticos a sua dor.

O silêncio é um grito de revolta brotando das profundezas do ser interior, inaudível ao despercebido, mas tão ruidoso quanto a turbina de um avião ao decolar, para o bom entendedor.

Ouvidos desatentos não podem ouvir o grito do silêncio. Ouvidos há que ficam absortos, alcantilados nas fronteiras dos seus próprios interesses e não se interessam sequer pelos ruídos sonoros que acontecem ao seu redor, quanto mais pelo não ruído que vem do silêncio?

Alguns importantes gritos querem se fazer ouvir, mas se perdem no universo do silêncio porque não podem ser expressados com liberdade, então são arquivados e mantidos aprisionados nas masmorras da nossa injustificada prudência, mas mesmo prisioneiro, lá das profundezas abissais do nosso eu esse grito anseia por se expressar em meio ao silêncio, por saber que sempre haverá algum ouvido atento para desfrutar das preciosas informações que vem dele.

Esse cativo grito, mesmo ficando aprisionado no silêncio por décadas, no peito aflito, nunca perde, entretanto, a esperança de um dia poder se expressar.

Mesmo diante de todos os ruídos que compõem o universo dos sons audíveis ao alcance de todos, até mesmo dos desavisados ou desatentos, o silêncio nunca deixa de gritar lá do fundo de sua masmorra: Oláááá!!! Tem alguém me ouvindo?