A INCRÍVEL MULHER DE QUATRO TETAS

Esta é realmente uma daquelas histórias clássicas onde nossos filhos nos fazem passar a maior vergonha do mundo com algum comentário sincero e inocente, porém muitas vezes inapropriado para o momento.

Levei minha esposa à uma consulta médica, e fiquei aguardando-a no carro com meu baixinho que na época tinha lá seus quatro anos de idade. Ele confortavelmente em sua cadeirinha no banco detrás falando sem parar e eu no maior diálogo, quando de repente ele dá um grito e aponta para fora do carro como se tivesse visto algo assustador e surreal.

– Papai, papai, olha lá, aquela mulher tem quatro tetas!

Recordo que olhei espantado, primeiro para a tal mulher e depois para ver se os vidros do carro estavam abertos, temendo que não só ela, mas todas as pessoas da rua escutassem aquele pirralho zombador praticando algum tipo de bullying contra alguém, mesmo sem nenhuma intenção. Percebi que os vidros estavam sim todos abertos e que a calçada estava abarrotada de gente e que todos olhavam atentos para o carro como se quisessem entender de onde vinha tamanho espanto daquela “pobre” criança.

Aquela história de que criança não mente, tem um fundo de verdade, porém as vezes a percepção do que vêem pode ser um tanto distorcida da realidade, criando uma situação muito difícil e constrangedora para os pais. O que ele viu na verdade foi uma mulher muito robusta com uma blusa tomara-que-caia, digamos inapropriada para aquele “corpinho”. Não entendo nada de moda, mas aquele tomara-que-caia realmente não estava “caindo” muito bem para ela, estava estranho mesmo, desculpe a comparação, mas era algo parecido com uma “pamonha amarrada”. Além de exibir dois grandes volumes na frente, por causa da vestimenta apertada nas costas, despontava outros dois enormes volumes atrás, que davam a infeliz ilusão de que a mulher realmente tinha mais dois peitos sobressalentes nas costas. Daí para a criança achar que viu realmente uma mulher com quatro tetas e anunciar aos gritos para o mundo todo ouvir sua inacreditável descoberta, foi um simples pulo.

Lembro que tentei desesperadamente fechar os vidros do carro a tempo, antes que alguém escutasse as palavras pronunciadas por aquele impulsivo menino. Tentei disfarçar cantarolando alguma canção, fingir que olhava para o outro lado da rua, mas o “circo já tinha pegado fogo” e para complicar ainda mais, meu pequeno não parava de apontar e repetir a mesma frase: – Papai, papai, olha lá, aquela mulher tem quatro tetas! – Você viu Papai, a mulher de quatro tetas, olha lá! Apontava e falava e meu coração disparado como caminhão sem freios descendo a ladeira.

Senti que meu rosto queimava de tanta vergonha, se tivesse um buraco lá, tinha me enfiado nele e saído só quando as coisas estivessem bem calmas. Até hoje não sei se aquela mulher escutou tão inocente afronta, só sei que passei uma das maiores vergonhas da minha vida. Hoje, meu filho está com oito anos e não se cansa de escutar esta história, do dia em que quase matou seu pai de vergonha. E pior, ainda acha que de fato viu uma incrível mulher de quatro tetas e que nada daquilo foi ilusão e ainda provoca. “– O quê eu vou fazer papai, se vi mesmo uma mulher de quatro tetas!”.

Peço desculpas formais a esta senhora, na hora não tive coragem de dizer, a vergonha foi maior. Perdoem nossas crianças, elas não sabem o que fazem.