A violência além do aceitável...
Todos nós já estamos submersos em um cotidiano de violência exacerbada e profana, contudo alguns episódios onde a mesma assume uma roupagem inimaginável, fazem com que a mobilização de um povo mude o rumo que seguimos.
Confesso que por mais que deseje me desvincular de tais assuntos, impossível me é, fato consumado, impossível prosseguir como uma mera espectadora dos fatos. O caso da jovem indiana, Jyoti Singh Pandey, agredida e morta por vários homens em um ônibus em Nova Déli, é um dos casos acima , assumiu uma roupagem que extrapola os níveis da violência "concebível" neste mundo contemporâneo. É fato que os casos de ataques ao sexo feminino na Índia, fazem parte de uma cultura enraizada de opressão e descaso, preciso foi que os limites aceitáveis da violência permissível fossem ultrapassados, para que o povo fosse ás ruas, realizasse protestos, abrisse mão inclusive das comemorações de ano-novo. Houve uma espécie de "despertar" do torpor, do fingir que nada acontecia.
Lendo uma reportagem fiquei sabendo que Jyoti, havia ido ao cinema, os últimos momentos de sua existência antes do terror que viveria, foram em frente a enorme tela dos sonhos inimagináveis, o filme escolhido se não me engano recém estreou aqui no Brasil "As Aventuras de Pi", uma produção de Ang Lee, onde a busca de um sentido metafísico pelo sentido da vida é constante. Com certeza a jovem estudante de medicina, ao sair do cinema, estivesse inundada por um forte sentimento de que a vida é linda, de que seu sonho em oferecer melhores condições de atendimento ao seu povo, fossem de fato possíveis, talvez Jyoti estivesse em estado de graça...
No entanto, a vida não imita a arte, o que ela encontrou não foram aventuras mágicas em sua volta para casa, mas o horror de se violentada por seis homens, seres que podem pertencem a qualquer outra categoria, menos a de "humanos", tampouco de animais, visto que tudo na natureza é preciso e certeiro, não existem atos insanos, apenas o necessário para a sobrevivência.
Muitas pessoas não querem ler, se recusam a ouvir, mas os detalhes revelados pelo jovem que a acompanhava, que alguns jornais colocam citam como namorado, outros como amigo, são reais. Joyti após ser violentada teve seu corpo esfacelado por barras de ferro, foi jogada para fora do ônibus com o intestino para fora devido ás perfurações com barras de ferro. Quando a polícia finalmente chegou, ao invés de socorrerem logo as vítimas, ficaram discutindo entre si, para qual distrito seria encaminhada a ocorrência...
As bestas estão sendo julgadas, o povo indiano enfim parece ter saído dos estado de letargia, e um questionamento não deixa minha mente tranquila: E aqui no Brasil, até onde o limite desta violência em que estamos mergulhados precisa chegar, para que de fato o povo desperte do mesmo estado de torpor, em que os indianos estavam?
Casos escabrosos não nos faltam: criança arrastada presa ao carro por bandidos, mulher grávida de nove meses baleada ao chegar em casa, mulheres sendo dia após dia sendo vítimas de canalhas, que ainda vivem com aquela velha ideia de que crime passional é sinônimo de honra?
Poderia ficar aqui narrando uma infinidade de casos, todavia apenas desejo lançar um questionamento: precisaremos nós aqui no Brasil termos uma mártir como foi Joyti para seu povo? A pergunta que não quer calar...