Padre Vestido de Franciscano
Frei Pedro, homem espiritual e de aguçada percepção da experiência do Deus que vem ao nosso encontro no inédito da vida, certa vez, fez-me uma confidência. Disse-me o velho frade que, em uma dada manhã de domingo da oitava de Natal, dia em que nós católicos celebramos a festa da Sagrada Família, aconteceu-lhe algo inusitado que lhe despertou a atenção e o convidou à meditação.
Estando ele a esperar um confrade seu à porta do convento onde habitava, avistou uma senhora com um estilo jovenzinho e toda serelepe descendo a ladeira. A mulher falava com alguém ao celular. Ao ver o frade, a mulher, com aquela discrição própria de quem não faz sigilo sequer de sua vida íntima nas conversas pelo telefone público, não se conteve e, quase que gritando, sussurrou para a pessoa que estava do outro lado da linha: “Maior ‘visu’, acabo de ver, ao descer a minha rua, um padre vestido de franciscano (com aquela roupa longa e tudo)...”. E o mencionado confrade, com um olhar sério, continuou a observar a mulher que seguiu o seu caminho se expondo sobre outros assuntos ao celular.
Após contar-me o ocorrido, o frade ficou em silêncio meditativo e não disse mais nada, como quem me convidasse a meditar sobre a questão. Eu, após alguns minutos, não resisti à tentação de não guardar para mim aquilo que descobri no segredo do silêncio do meu coração. E disse ao velho frade: “Como temos padres vestidos de franciscanos...”. E ele sabiamente completou: “E isto quando se vestem...”.