AMAR É VIVER

Não sei ser mais ou menos, pensar mais ou menos, sentir mais ou menos, não fico em cima de muro nenhum. Se amo, amo, se gosto, gosto. Se não gosto, não gosto. Não tento ser o que não sou para agradar. Se concordo, concordo, se discordo, discordo, mas não da pessoa e, sim ,de alguma idéia ou pensamento. Não costumo ter intenção alguma de ofender alguém ao discordar ou pensar diferente. Mas nem sempre sou feliz em minhas comunicações e , por vezes, sou interpretada erradamente.

Não me lembro nunca de ter tirado alguém de meu coração por causa de discordâncias ou desentendimentos. Ao contrário, nesses casos sempre fico aflita para desatar os nós. Quem ganha meu afeto, grava-se fundamente em mim e nunca encontrará minhas portas fechadas. Jamais entendi porque as pessoas fecham tanto suas portas, em geral por motivos bobos que não fazem sentido. Jamais entendi porque impedem a si mesmas de conhecer melhor outras pessoas, ou porque tantas vezes se resguardam atrás de muros frágeis...

Não gosto de muros. Simplesmente, detesto-os. Amo pontes. Amo comunicação. Tenho medo da rudeza, de ser escarnecida e rejeitada, como todo mundo, mas ainda assim não me fecho, me exponho, me comunico, vezes sem conta passo por ridícula, por louca, por desequilibrada, etc, ou ouço que devo ter um muro protetor também. As vezes, me canso da indiferença ou das interpretações equivocadas, então penso que afinal desistirei. Mas se alguém mora no meu coração, ainda assim, mesmo quando chego no meu limite, encontrará portas e janelas abertas.

Não sei ficar brigada, nunca soube. Não sei deixar de me importar com quem me cativa. Milhares de vezes fui ferida e continuo sendo, por pessoas que me são queridas e que se fecham totalmente. Mesmo assim, não sei ser indiferente. Nem serei. Ainda que me partam o coração mais milhares de vezes, não desejo ser nada além de mim mesma. Não desejo viver na defensiva, desconfiada, porque isso não me faz sentido algum e me faz mal. Confio e continuarei a confiar. Revelo-me e continuarei a revelar-me, como uma carta que escrevo a quem souber ou ao menos se dispuser a ler. Mesmo que, nesse caminho, por vezes, eu seja enganada, ou ignorada, ou machucada. A dor também faz parte da vida, da verdadeira vida.

Vivemos num mundo fragmentado em que as pessoas pensam que devem ser alegres e felizes o tempo todo, que não devem sentir dor, ou então que têm que fugir dela ou evitá-la de todas as formas. Um mundo de desconfiados com medo de serem feridos por outros também desconfiados. Mas solidão e dor faz parte também da vida e do que chamamos "amor" tanto quanto a alegria. Há momentos em que me sinto tão farta de tanta desconfiança, de tanto medo, de tantos jogos e subterfúgios inúteis. Por que simplesmente não podemos ser nós mesmos/as e dialogarmos uns com os outros sinceramente, sem toda essa tralha a nos encharcar e paralisar ? Sem nos ofendermos tão facilmente em nossa frágil auto-imagem porque fulano ou cicrana disse isso ou aquilo ou pensa isso ou aquilo, ou discordou de nós, ou disse não sei o que nao sei como, parecendo agressiva ou irônica ou isso ou aquilo ?

Aheeee gente! Quando entenderemos que as vezes alguém diz alguma coisa no calor de uma emoção, e isso não quer dizer que não goste de nós ? Ou que discorda veementemente do que cremos ou pensamos, mas isso também não quer dizer que não possa ser nosso amigo/a ? Ou que muitas vezes o que se diz é apenas papo furado ou defesa de alguém que de repente fica com receio de que o/a machuquemos ?

Quando vamos aprender a relevar a maior parte das bobagens de crianças grandes que saem de nós, as vezes até sem querer ? Quando vamos perceber que a maioria das pessoas é resultado de sua bagagem e que, a vezes, bagagens diferentes geram conflitos ao se encontrar, mas não quer dizer que precisem ser inimigos/as por isso ? Que, as vezes, o que alguém diz ou expressa ou faz é apenas fruto de sua bagagem, de seu modo de ver, de seu ponto de vista, e não um modo proposital de querer nos ferir ? Que como diz Boff " todo ponto de vista é a vista de um ponto" ? Que, as vezes, dois pontos de vista distintos não são opostos como se imagina, são apenas prismas diferentes ? E mesmo quando são opostos não são necessariamente uma ameaça um ao outro ?

Quando aprenderemos a dialogar de verdade ? A amar de verdade, desejando o real bem da outra pessoa e não apenas que gire em torno de nosso ego ? Entregando-nos de verdade sem tanto medo de nos ferirmos, sem tantas exigências de garantias de felicidade ? Sem tanto egoísmo e mediocridade ? Amar não é isso! Amar não é exigir que o outro/a seja nosso passaporte de felicidade. Nem que seja nossa outra metade e coisas do gênero. Não somos metades. Somos seres inteiros, ou pelo menos deveríamos ser. Amar é uma aventura conjunta de duas pessoas inteiras, dispostas a serem companheiras, a se doarem gratuitamente, a dialogar e serem elas mesmas como o/a outro/a sem máscaras, defesas mil, sem contabilização do que uma doou ou não à outra, sem mesquinharia, e sem medo de demonstrar o amor, o carinho de todas as formas possíveis, cada uma à sua maneira. Isso vale para o amor a dois/duas e também para a amizade e qualquer tipo de amor.

AMAR EXIGE O MELHOR DE NÓS E CORAGEM. Se não for assim, não é amor. Se voce não dá o melhor de si, se não está disposto/a a partilhar não só os momentos bons, mas também os ruins e a sofrer junto quando for o caso, e a se comprometer de fato com o/a outro/a, não é amor. É qualquer outra coisa, menos amor. Contudo, pense nisso: não estamos aqui para ser felizes ou tristes, nem para estarmos sempre seguros e protegidos em masmorras que construímos, nem para nunca termos medo de nada, estamos aqui para apenas uma coisa: aprender a amar e amar! Porque vida é amor. AMAR É VIVER!. Na vida só faz sentido aquilo em que ha amor. O resto é desperdício. Mesmo a maior loucura, se for por amor, vale a pena. Já o mais sensato gesto ou atitude, se for sem amor, não vale nada. E não se engane: nenhuma outra coisa satisfará tua alma, a não ser o amor, amar e ser amado/a, mesmo que você a mergulhe em tudo que possa encontrar. Então, que tal abaixarmos as armas, despirmos as armaduras, nos darmos as mãos e embarcarmos nessa aventura inenarrável que nos transcende ?