O TRABALHO DAS FORMIGAS

Como é de costume, todo final de semana passo horas em convívio com minha cria, meu rebento na experiência badernista de duas primaveras bem vividas, adora os finais de semana, pois pode desfrutar da presença do pai que o acompanha nas mais doidas e pândegas “aventuras”. O final de semana tira-lhe o encargo de perguntar para a mamãe: - Cadê o papai? E escutar uma resposta antipática e incompreensível: - O papai está no trabalho! O que rola em seu pensamento é: O papai não pode brincar comigo por causa deste tal de trabalho.

Que energia tem estas crianças, acordam cedo (principalmente nos finais de semana) jogam bola, passeiam de bicicleta e correm para lá e para cá. Ufa, que fôlego.

No último domingo fomos para o habitual passeio na pracinha de minha cidade, deixei ele correr livre e solto enquanto sentado no banco da praça o observava para interferir só quando houvesse risco de luxações, torções e galos na cabeça (quase sempre). Levei comigo um livro na esperança de poder ler uma ou duas páginas entre uma interferência e outra (mas nunca consigo ler sequer dois parágrafos), quando mais adiante vejo uma movimentação de formigas, todas em uma fila aparentemente desorganizada, carregam o alimento em uma loucura de cabeças, ferrões e patas (como trabalham estas formigas).

Pensei comigo, é uma grande oportunidade de ensinar meu filho sobre o valor do trabalho em equipe. E lá fui eu:

-Filho, filho, vem cá que quero lhe mostrar uma coisa bem legal.

E lá estava eu e meu garoto, eu com semblante de mestre chinês querendo ensinar seu pupilo sobre os mistérios da vida e o menino doido para só brincar e mais nada (estava na cara que não queria aprender nada comigo sobre a vida das formigas).

- Filho, olha como o trabalho em equipe é importante, as formiguinhas estão todas unidas por um único objetivo, alimentar todo o formigueiro, veja que interessante. Vamos acompanhá-las para descobrir para onde estão indo.

E lá fomos nós acompanhando aquele bando de formigas valentes que enfrentavam a lida com uma disposição frenética sob um sol escaldante, para juntas, criar uma reserva de folhinhas capaz de alimentar todo o formigueiro.

-Filho olha aqui o formigueiro, está vendo? Elas vão buscar o seu alimento tão longe e trazem até aqui, está vendo o valor do trabalho?! Elas passam a vida toda trabalhando para o bem de todo o formigueiro.

Mal terminei de falar e fui pego de surpresa pela brusca reação do meu pequeno, que pisoteava com ira causando a baixa de várias formiguinhas que sucumbiam uma a uma espancadas pelo descontrole daquele pequeno ser.

-Trabalho não papai, trabalho vida toda não. Grita enquanto pisoteia.

-Filho não faça isto, coitadinhas, elas não merecem morrer desta forma, pare.

-Papai, trabalho não. E grita e pisa, pisa, pisa sem parar, numa cólera incontrolável.

Tive que interferir naquela matança e carregá-lo para bem longe, acalmando-o com outra brincadeira menos educativa, tendo o cuidado é claro de não traumatizá-lo (ou traumatizar-me).

É, não fui muito feliz na minha primeira oportunidade de ensinar o meu baixinho sobre a importância do trabalho na vida de um ser humano, mesmo porque, tenho que concordar que brincar é bem mais legal.

-Joga a bola aí papai.

-Tá bom filho, segura aí...

Obs.: Meu filho hoje tem 8 anos, isto aconteceu quando ele tinha 2 aninhos, mas só agora resolvi compartilhar esta crônica com todos vocês. E tem muito mais, aguardem.

Crônica escrita em 20/09/2006.