“Tuchtinha” NÃO...TU-CHTI-NHA!

As crianças sempre me fascinaram, com sua motivação, criatividade, positividade, curiosidade, características estas inerentes a todas as crianças. Vivem nos surpreendendo a cada instante, com perguntas e respostas que fazem a gente se questionar: Quem ensinou isto a esta criança? E não encontrando explicação apelamos - será que foi a televisão? Sei lá porque eu não fui...

Um dia destes meu filho, um guri de 2 anos mas já “diplomado” em bagunça com pós-graduação em baderna e doutorado em travessuras veio até mim com uma pergunta como se estivesse precisando muito de algo que havia “sumido”:

-Papai, papai, tadê “tuchtinha”meu.

-O quê você está procurando filho, fala pro papai.

-Tadê “tuchtinha”.

-“Tuchtinha”?

-“Tuchtinha” NÃO...TU-CHTI-NHA!

-Filho, papai não sabe o quê é “tuchtinha”?

-“Tuchtinha” NÃO papai...TU-CHTI-NHA! Neste momento eu já estava me achando o pior pai do mundo, que irresponsabilidade não entender o próprio filho.

-Filho, desculpa, mas o papai não sabe onde está o “tuchtinha”.

Meu filho faz mais uma tentativa de fazer com que eu compreenda o que parecia óbvio:

-PAPAI, “Tuchtinha” NÃO...TU-CHTI-NHA! “Tuchtinha” pa nenê mimi bessu meu!

Ai, ai, ai, esta agora, se já não entendi aquela primeira palavra, imagina agora uma frase inteira e de tal complexidade como esta. Será que não existe nenhum curso de “bebenês” por aí, sei lá tem tantos cursos por aí, estes dias vi um curso de esperanto e outro de javanês em um anúncio no jornal, já sei, vou procurar na internet, na internet tem “tudo” não é, quem sabe...

-“Tuchtinha” pa nenê mimi bessu meu!

Confesso que mais uns cinco minutos me bastava para decifrar este enigma, só mais cinco minutinhos. Meu esforço era evidente, estava focado na solução desta questão. Nunca fui bom em falar na língua do pê, creio que isto influenciou um pouco, mas eu não desistirei. -“Tuchtinha” pa nenê mimi bessu meu! Repito insistentemente para fixar a pronúncia quando ouço uma voz já adentrando o quarto:

-Você não está entendendo o que seu filho está perguntando, coitado.

Isso já me irritou profundamente.

-Lá vem a mãe da razão, a mãe da sabedoria, vai me dizer que só porque é a mãe dele, fala bebenês melhor que eu?

-Bebenês???

-Deixa pra lá. Fala aí o quê ele procura então.

Com ar de esnobação, fala sem titubear:

-Simples, seu filho pergunta o seguinte – Papai, cadê o meu fusquinha, eu quero dormir no berço com o meu fusquinha.

Caramba, mais uma vez ela me humilha na frente do meu filho.

-Ah tá, eu já tinha entendido quase tudo, só faltava uma ou outra palavra.

-E por que não pegou o brinquedo que está em cima da mesa para o seu filho?!

Vou confessar, não colou.

-É o fusquinha que você quer filho?!

-É papai, TU-CHTI-NHA. “Tuchtinha” pa nenê mimi bessu meu!

-Tó filho, dorme com os anjos tá.

Obs.: Meu filho hoje tem 8 anos, isto aconteceu quando ele tinha 2 aninhos, mas só agora resolvi compartilhar esta crônica com todos vocês. E tem muito mais, aguardem.

Crônica escrita em 12/08/2006.