O PADRE MIRANDA

O religioso encarregado da paróquia de Pirapetinga, durante o período da Segunda Guerra Mundial, foi o padre Miranda, como era conhecido.

Tornou-se cliente do meu pai e acabou ficando seu amigo. O padre era do tempo em que se rezava missa em latim.

Ele, às vezes, quando ia ao consultório dentário, costumava desabafar e narrou o seguinte:

― Ó Messias, eu quero lhe contar uma coisa. Quando era jovem, lá no agreste do meu estado, minha mãe fez uma promessa para eu ser seminarista. Entrei para o monastério. Terminando o curso, fui ordenado presbítero, mas eu nunca quis ser padre, não é o que eu escolheria para a minha vida. Por isso, resolvi comprar um sítio e tenho lá algumas cabeças de gado, o que me rende um dinheirinho. Há muitas novilhas bonitas e tive a ideia de colocar nomes nas belezinhas. A mais bonita delas é a Déa, filha do fazendeiro Sebastião.

Sebastião era irmão da minha avó, mas o padre não sabia.

Continuou contando:

― Dei o nome de Dalva à segunda mais bonita.

A moça era sobrinha da minha mãe e ele também não sabia.

― E há muitas outras novilhas com nomes de moças bonitas.

Logo depois concluiu:

― Qualquer dia vou largar a batina e constituir uma família. Afinal, a promessa da minha mãe já está mais do que cumprida, você não acha?

Meu pai respondeu-lhe que, talvez, estivesse arranjando encrenca com os nomes das novilhas, pois alguém poderia descobrir e ele ficaria bem mal. Achava que seria melhor parar com tal ideia.

— Não, Messias, isto pra mim é uma arte, é a associação da beleza das moças com a beleza das novilhas, não existe maldade, não.

É, pode ser...

Orpheu Leal
Enviado por Orpheu Leal em 30/12/2012
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