MORRÃO
Nesse natal, aproveitamos que a família estava toda reunida e decidimos fazer um programa bem diferente dos tradicionais encontros de fim de ano. Saímos numa dessas noites quentes, aliás, terrivelmente quente e fomos recordar nossa infância quando papai nos levava para o “Morrão”.
Já explico tal expressão que surgiu nesses passeios que meu pai inventava: Morrão é um dos morros que circulam nossa pequenina cidade, e que meu pai escolhia para nos levar num delicioso passeio nas noites de verão. Enchia o carro de meninos chamava minha mãe e mais quem estivesse de visita lá em casa e íamos passar deliciosas horas saboreando o ar fresquinho do Morrão.
Levávamos colchões, cobertas e almofadas para estender na grama dos campos de cascalho, e meu pai direcionava os faróis do carro iluminando o bastante para que a prole pudesse brincar. Porém na maioria das noites dispensava-se a bateria, pois o céu oferecia o mais lindo e iluminado espetáculo já visto na natureza.
Sob a luz intensa da lua airosa e o cintilar das estrelas prateadas, nós brincávamos enquanto meu pai e minha mãe esparramados numa coberta, preguiçavam até muito tarde da noite refrescando-se com a brisa deliciosa que se fazia no Morro.
No som do carro perfilavam canções sertanejas da mais pura qualidade, como Tunico e Tinoco, Cascatinha e Inhana e alguns boleros... Outras vezes quando havia mais pessoas, recitávamos versos e poesias, também ensaiávamos algumas canções como Felicidade de Caetano e outras modas antigas.
Engraçado que ao recordar esse delicioso passeio levamos todos que estavam em casa para as festas natalinas, e não só as crianças, mas os adolescentes e os jovens também se deliciaram e se integraram ao grupo dos mais idosos com a mesma intensidade de participação e alegria. Fiquei a imaginar o quanto as famílias estão perdendo terreno para outras atrações modernas, quando simples atitudes podem marcar definitivamente nossas vidas, deixando dígitos que podem ficar para sempre em nossas memórias, assim como os nossos pitorescos passeios no Morrão que jamais serão esquecidos...
Obrigada Papai por ter participado efetivamente de nossa infância.
Seus treze filhos, nunca se esquecem de todas as brincadeiras e as travessuras que nos ensinaste fazer...