Visita a Setúbal e Évora

Depois de longa ausência, retorno às páginas de o Recanto das Letras, conceituado site que generosamente hospeda os meus escritos. Volto a escrever sobre a recente viagem que fiz ao leste europeu, na companhia de minha estimada consorte e de nossa filha mais velha, Mércia. Em 7 de outubro último, publiquei o primeiro episódio de nosso passeio, prometendo sequenciá-lo periodicamente. Na oportunidade, dei àquela narrativa o título de "Contarei Tudo. Tenha Paciência". Agora, na expectativa de ser perdoado pelo atraso, volto ao assunto, justificando-o por ter utilizado esses quase três meses na produção do livro que conta toda a história. Dei à narrativa, o título de "Fui, vi e gostei".

No dia 18 de setembro, visitamos o Museu José Maria da Fonseca, situado na Vila Nogueira de Azeitão, na região de Setúbal, a 32 quilômetros de Lisboa, capital portuguesa. Nessa localidade, são produzidos bons vinhos, como os da marca Periquita, da vinícola José Maria da Fonseca, hoje Soares Franco, alterada para ajustar a denominação da empresa ao nome da família, em virtude dos sucessivos casamentos ocorridos ao longo dos anos. A conceituada vinícola produz a milenar bebida desde 1834.

A mais antiga marca da lista de bons produtos da adega visitada é o vinho Periquita, do qual sou consumidor de moderada apreciação. Até 2001, esse destacado vinho era produzido exclusivamente com a uva castelão, conhecida em Portugal como Periquita, daí o seu nome.

O vinho é tido como “néctar dos deuses”. Segundo lenda da Grécia antiga, ele era considerado a bebida dos deuses do Olimpo e, ainda, eternizava a vida.

Juntamente com turistas ingleses, fomos apresentados à vinícola José Maria da Fonseca por dois de seus funcionários, que simultaneamente se expressavam em inglês e português. Em uma sala do museu, localizada à entrada do prédio, conhecemos a primeira máquina de enchimento mecanizado, datada de 1950, capaz de encher duzentas e quarenta garrafas por hora. Hoje, as máquinas modernas abastecem, por hora, trinta mil garrafas.

Também nos foram mostrados vários prêmios concedidos ao fundador da organização. Representados por diplomas e medalhas afixados nas paredes, as distinções atestam a seriedade administrativa do homem que obteve êxito na produção de vinhos. Até os dias de hoje, seus produtos são reconhecidos mundo afora. A primeira honraria concedida ao senhor José Maria da Fonseca, como produtor de vinho, ocorreu em 1834.

Estivemos em algumas adegas que compõem a conceituada vinícola portuguesa. Em uma delas, encontram-se armazenados oitocentos mil litros do vinho Periquita, distribuídos em trinta e seis tonéis de mogno, madeira importada do Brasil, e em cento e vinte barris de carvalho, oriundos da França. Ao final da visita, provamos e aprovamos dois vinhos, um branco e um tinto, das marcas Periquita e Moscatel.

Ainda no dia 18 de setembro, na companhia do motorista e guia, Amadeu Ferreira, conhecemos a cidade de Évora, capital do distrito do mesmo nome, situada na região de Alentejo. Segundo dados de 2011, sua população é estimada em 48.792 habitantes. Trata-se de um dos maiores municípios de Portugal. O centro histórico da cidade é bem conservado e rico em monumentos antigos, possuindo um dos mais importantes acervos de obras de grande estatura, destinados a perpetuar a memória milenar da região. Sob o aspecto histórico e arquitetônico, suas antigas edificações são consideradas as mais ricas de Portugal. De tudo, valeu-lhe o título de Cidade-Museu. Em 1986, foi declarada Patrimônio Mundial, pela UNESCO.

Évora é uma cidade milenar. No tempo do imperador Augusto (63 a.C a 14 d.C.), foi integrada à Província da Lusitânia, território situado a oeste da península Ibérica. A Lusitânia romana abrangia o atual território português, ao sul do rio Douro. Tornou-se província romana a partir do ano 29 a.C. Ali, viveram os lusitanos, ancestrais dos portugueses, principalmente dos estabelecidos no centro e no sul do país.

No distante século III, foi erguida uma muralha em torno da cidade, restando parte dela até os dias de hoje, conhecida como Porta de Avis. Évora foi reconquistada dos mouros em 1165, pelo cavalheiro Geraldo Sem Pavor, responsável pela conquista de várias localidades da região de Alentejo.

Contemplamos de perto os principais monumentos da cidade: o Templo Romano, também conhecido, equivocadamente, por Templo de Diana, situado na parte mais alta da cidade, talvez construído no século I; a catedral, uma das edificações medievais mais antigas existentes no país, erigida entre os séculos XIII e XIV; o palácio de D. Manuel e a Igreja de São Francisco, construída no reinado de D. João II e concluída no de D. Manuel. A catedral onde se encontram as estátuas dos apóstolos, incrustadas na porta principal, é rica em obras de arte.

Achamos inusitado o revestimento da Capela dos Ossos, situada na Igreja de São Francisco, construída no século XVII. Essa capela tem as paredes revestidas de ossos humanos: tíbias, fêmures, cóccix e crânios. Em pontos distintos, duas caveiras de corpo inteiro, com a pele ressequida a revestir-lhes a ossatura, pendem afixadas às paredes. Para procederem ao insólito revestimento, foram utilizados cinco mil ossos, aproximadamente, pertencentes a cadáveres enterrados no cemitério do convento. Uma inscrição à entrada da capela diz: "Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos".

Estivemos no Palácio Cadaval, construído no século XIV, em estilo árabe, gótico e manuelino. A Igreja de São João Evangelista, existente no palácio, é uma das mais bonitas de Portugal. Os azulejos formam lindos painéis nas paredes e datam do século XVIII. Percorremos todas as dependências do palácio, sendo nossa visita registrada em inúmeras fotografias.

Ainda em Évora, conhecemos a Pousada dos Lóios, antigo mosteiro de São João Evangelista, fundado em 1485, por D. Rodrigo Melo, primeiro conde de Olivença. Ao longo dos anos, o prédio foi submetido a diversas alterações e reformas, motivadas pela ação implacável do tempo e por danos causados pelo terremoto de 1755. Desabitado por longo tempo, foi reformado em 1965 e passou a funcionar com a denominação de Pousada de Portugal. Os trinta e seis quartos oferecidos aos hóspedes serviram de celas aos membros da clausura, que seguiam as regras monásticas. São diferentes entre si, porém, confortáveis para o usuário que ali deseja hospedar-se.

Visitamos as principais dependências da Pousada dos Lóios e gostamos do que vimos: restaurante, bar aconchegante, jardim, piscina e parque privado. Ao término da visita, achamos ter valido a pena conhecê-la. E, talvez, hospedar-se quando de nova passagem por Portugal.

Almoçamos em um pequeno restaurante às margens da rodovia. Minha esposa e filha comeram saboroso bacalhau na brasa, regado a azeite de oliva. Amadeu, nosso guia e motorista, e eu saboreamos carne de porco. Ao final, tomamos um cafezinho, adicionado a uma aguardente de pera.

Eis, portanto, a descrição a que me propus relatar sobre Évora, em minhas curtas horas de visitação. Fiquei satisfeito com o que vi. Acredito que minha mulher e minha filha, também. Espero que o leitor tenha a mesma impressão, depois de conhecer Évora, como a descrevi. Oportunamente, narrarei sobre a continuidade da viagem. Até lá!