RIDÍCULO

RIDÍCULO 300.182

Quando nos propomos a um novo empreendimento, logo surgem malévolas vozes convencionais que nos rotulam de uma série de adjetivações com o espírito motor que nada mais é que a expansão de nossos anseios naturais, os de expelir "todas as cobras" que nos devoram e mordem, que nos constróem, que nos empurram, que nos erguem, enfim, todos os estros pungentes em nosso interior!

É muito difícil aos outros entenderem essa nossa atitude de inauguração, que em nada nos constrange, em tudo nos estimula, eis que nos é dada uma oportunidade de descobrirmos, em cada um de nós mesmos, o pouco de poeta, o pouco de louco, o pouco de médico, o pouco de filósofo, o pouco de pouco que somos (e quantas vezes não entendemos o oposto-inexato?)

Uma real oportunidade, dentre muitas a surgir no cotidiano rotineiro, que não é tão assim, de aprendermos a conhecer-nos a nós próprios, a qual, por não ser captado o justo motivo da participação, gera esdrúxulas críticas, acéfalas e ápodes.

Estamos sendo severos para com nossos críticos?

Não! Entendemos que não nos podem julgar considerando apenas os fatores e as cores aparentes, pois ignoram as razões de fundo. As ondas superficiais transportam o barco ao léu, porém as potentes ondas interiores e submersas revolvem as profundezas do oceano, renovando-lhes as vidas e não assassinam nenhum ser nela vivente, enquanto aquelas podem até emborcar um transatlântico de 400.000 toneladas!

Estaremos procurando notoriedade/reconhecimento, prestígio, o vilão monetário codificado em cédulas impressas em séries longas ou restritas, vedetismo, hipocrisia?...

Sim, a uníssona voz dos críticos!

Não, a voz única dos autores. Buscamos, com naturalidade, a notoriedade, o prestígio, a recompensa monetária e a oportunidade de representarmos no papel o papel que a cada um compete, que cada um de nós aprecia e gosta de realmente ser (e não pode, por estar truncado por convenções!), de sensibilizadamente captar no ar (embora não seja antena, nos ares circulam, soltas, boas e belas ondas de idéias, por quê não ligá-las aos papéis?) e de primordialmente praticar os conhecimentos que se auferiram nos bancos escolares (dos currículos escolares ainda consta a disciplina Língua Portuguesa, através da qual se aprende a ler, corretamente, a escrever, retamente, e a entender as linhas, entrelinhas, sublinhas, soblinhas e por linhas paralelas, retas ou curvas e, quem sabe?, espaciais!) Destarte, o que impediria, então, alguém de se atirar ao novo empreeendimento?

Diuturnamente, não estamos concorrendo, leal ou desleamente, com nossos colegas profissionais, concordando ou divergindo de suas idéias, não estamos convivendo e vivendo, pacifica ou belicosamente, com nossos familiares, convergindo ou discordando para/de seus métodos, não estamos conversando, animada ou acabrunhadamente, com nossos amigos, contando ou escutando nossas/suas estórias, não estamos combatendo, com flechas covardes ou estilingues valentes, nossos inimigos, declarados ou sub-reptícios?

Tudo impede! Nada impede!

Não comporemos um "Soneto da Fidelidade" (Vinícius já o construiu e será eterno, mesmo sendo chama, enquanto dure!), não traçaremos o "Círculo Vicioso" (Machado de Assis já falou de/com borboleta e vagalume e ainda não se endenderam!), não montaremos a estrada onde "Tinha uma Pedra no Caminho" (Drummond, não foi ele que a colocou lá, ele observou que ela estava lá e só!), não vamos...

Vamos começar pelo começo! É difícil fazer rima? Você rima de baixo para cima ou bem de cima para baixo e diz - "Eu encaixo esta linha, nem que seja bem curtinha!" Novo estilo? Se puder inventar, ótimo, será mais um estilo: se não, seguir os consagrados. E a métrica? Pois bem, a métrica é um recurso matemático associado à linguagem (é como o coração: dá tantas batidas por minuto!) E a originalidade? A partir da hora em não não se está plagiando/parodiando/parafraseando/passando a limpo uma poesia de outro autor, ela é bastante original (e pena que do original tiram-se cópias!) E a temática? Escolher uma abelha ou um rinoceronte (conforme o peso que se pretende dar ao tema!) E a correção e a pureza de linguagem? Utilizar...

Sabe por que você, puro e santo leitor, conseguiu ler até aqui?

Você não é analfagamabeto! Rezai, esferas!, não seja rídículo!

Tito Vernaglia, aos dezenove dias do mês de dezembro do ano 2012.

Tito Vernaglia
Enviado por Tito Vernaglia em 19/12/2012
Reeditado em 21/12/2012
Código do texto: T4043442
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