Ed. Aristides Lobo, 846 - Silêncios
É no silêncio da noite, que me vem este silêncio trágico... Volvendo lembranças, trazendo um turbilhão de silêncios ainda maiores... Que são calados pelo tempo, quer dizer, que são calados de tempo em tempos, mas... Que são impossíveis de silenciar.
No silêncio daquelas paredes brancas, ainda podem se ouvir os gritos que outrora fomos nós... Lá ficamos! Lá ficou o meu primeiro beijo (escondido entre palavras e amigas), ficou também, um pedaço da testa da Karina, as picuinhas e as implicâncias de criança.
Lá ficaram todas as brincadeiras: Pira-alta, esconde-esconde, cemitério, infinitas... Ficaram as crianças do meu tempo, junto com os meus melhores sorrisos. Lá ficaram Atalanas, Brunas, Karinas, Fabinnes, Robertas e Rafaelas... Lá ficaram Fernandos, Alexandres, Felipes, Andrés, Rafaeis, Claudinhos e Andersons... E em vez de Marias e Clarices, lá choraram Delmas, Leilas, Iones, Goretes e Magnólias.
Lá ficaram... Lá ficamos! Impregnados no silêncio azul daquelas paredes brancas, no silêncio alvo daquele chão ladrilhado todinho de vermelho, no silêncio imutável dos corredores, quando exatamente às dez da noite se apagavam todas as luzes. No silêncio ensurdecedor das escadas, no silêncio amedrontador da garagem... No silêncio das lágrimas que nunca ninguém viu, pois se deixavam esconder em algum canto, quando apanhávamos.
Lembranças escondidas no silêncio do silêncio... No silêncio eterno do tempo calando sempre e nos fazendo voltar aquele silêncio de antigamente, cheio de vozes, gargalhadas e crianças e agora... Mais uma vez, silêncio.
P.S.:À todas as crianças (em especial aos meus irmãos Fernando e Alexandre) que habitaram o Aristides Lobo de 1983 a 1992, foi um prazer ter vivido junto com vocês, essa infância de conto de fadas!!! Obrigada!!!
Texto escrito em 16/03/2005