O ATAQUE

Certa vez fui incumbido de cumprir um mandado de intimação em Jacarepaguá. Quando cheguei ao local, encontrei um muro alto e um portão comum, alto também. Não tinha garagem. Toquei a campainha e nada.

Atravessei a rua, e, de lá, pude ver a casa: grande, mal conservada, construída nos fundos do quintal.

Avistei na janela uma senhora idosa, gorda, que fez sinal para que eu entrasse. Acionou, então, um dispositivo para abrir o portão.

Entrei, cautelosamente e, após aproximar-me da janela, perguntei à dita senhora se havia cachorro na casa. Respondeu que estavam presos.

Depois que soube que eu estava levando um mandado de intimação para que fosse ao Cartório assinar uma escritura de compra e venda de uma de suas casas, ficou furiosa e, de repente, abriu-se a porta da casa e vieram, em minha direção, cerca de dez cachorros latindo. Correr não adiantaria, pois seria alcançado em poucos segundos.

Ela, lá da janela, gritou que eles não mordiam.

Fiquei cercado pelos animais, que latiam sem parar. Um deles deu-me uma dentada na perna. Se eu revidasse com um pontapé, os outros certamente me morderiam também.

Gritei, dizendo que havia sido atacado por um deles.

A mulher mandou que uma moça recolhesse os bichos. O sangue apareceu logo. Dei a contrafé à moça, pedindo-lhe que a entregasse àquela senhora e dissesse que ela estava intimada. Falou, lá do alto, que os cães eram inofensivos.

Fui até uma farmácia e, depois do curativo de emergência, o farmacêutico recomendou que eu procurasse, no centro da cidade, um lugar para ser vacinado. Telefonei para lá e a pessoa que atendeu perguntou se o animal estava vacinado; se estivesse, não haveria necessidade de eu ir.

Descobri o telefone da dona dos cachorros. Minha mulher fez a ligação, temendo que eu fosse xingar a criatura. A resposta foi curta e grossa: “Todos estão vacinados”, e desligou o telefone.

Uma semana depois, ligou de novo, para saber se algum dos cães aparecera doente. Despachou-a com palavras grosseiras, dizendo que seus bichinhos estavam todos bem. Não tomei vacina nenhuma.

Felizmente não peguei hidrofobia.